ALDEIA DO
SILÊNCIO
Frei
Betto
Um homem que se comunicava pelo silêncio. Palavras construídas em pensamento e que ganharam o mundo através de seus escritos. Assim é o homem que faleceu em um hospital 17 anos depois de ter sido ali internado.
Uma vez
alfabetizado, seu mutismo tornou-se intransponível. E sua internação
alimentou-se de intensa leitura. Ao morrer, deixou um caderno com um rico relato
de como vivera antes de ingressar no hospital.
Aldeia
do silêncio, de Frei Betto, é uma viagem pelo mundo
interior de uma pessoa sem nome próprio, mas com identidade definida.
Vivendo com seu avô, sua mãe, o cachorro e o urubu de estimação, esse
personagem aprendeu a preencher com silêncio seu vazio interior.
Sua
família vivia reclusa, longe de qualquer sinal de “civilização”. O
isolamento também os libertava do controle do tempo. “Prescindíamos de relógio e
calendário; ali o tempo desconhecia marcadores de ciclos e velocidade”, escreveu
o personagem enquanto definhava no leito de
hospital.
Mas a paz
conquistada pelo isolamento não duraria para sempre. Mesmo resistindo por
anos ao apelo do pai – que fora viver na cidade – para que deixasse aquele local
considerado atrasado e miserável, o homem sem nome não pôde enfrentar a força
dos estranhos que chegaram à aldeia e o exilaram de sua casa e de sua família,
as únicas referências que conhecera por toda a
vida.
Cultivando
o silêncio, ele descobriu o poder da palavra. E também como a palavra é,
todos os dias, maltratada e violentada. Parecia-lhe que as pessoas têm
necessidade de falar, tagarelar, banalizar o uso do verbo, enquanto ele, desde
criança, se deliciava com cada palavra aprendida de uma forma que ninguém jamais
entenderia.
“Não é a
boca que faz o silêncio, é o âmago do nosso ser (...) O verdadeiro silêncio cala
o espírito e se traduz em paz interior, em inquietação d´alma, e a ninguém
julga, nem a si mesmo.” Em Aldeia do silêncio,
Frei Betto convida o leitor a refletir sobre o mistério da linguagem e a
inestimável riqueza do silêncio interior.
O
autor
FREI BETTO
é autor de 56 obras, como os romances Minas do Ouro, Hotel
Brasil – O mistério das cabeças degoladas, Um homem chamado
Jesus, A arte de semear estrelas, Alfabetto – autobiografia
escolar, Alucinado som de tuba, O vencedor e O dia de
Ângelo. Publicou também livros de contos, como Aquário Negro e
Treze contos diabólicos e um angélico. Entre os títulos
infantojuvenis, destacam-se Começo, meio e fim, Uala, o
amor, Maricota e o mundo das letras, A menina e o elefante,
Fogãozinho – culinária em histórias infantis, Saborosa viagem pelo
Brasil e Talita abre a porta dos evangelhos. Por sua obra
literária, Frei Betto ganhou duas vezes o prêmio Jabuti, além do prêmio da
Associação Paulista dos Críticos de Arte e o prêmio Alba de Literatura. Suas
obras foram traduzidas para 24 idiomas.
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