ESPERANÇA PARA UNS, PESADELO PARA OUTROS
Brasil legaliza cerca de 900 imigrantes, mas insiste em cooperação. Mas, imigrantes de outras nacionalidades não terão atendimento especial. Em Brasiléia há senegaleses, dominicanos, nigerianos e um bengalês. Imigrantes devem seguir os procedimentos legais previstos na legislação.A situação dos imigrantes que chegaram ao Brasil pela fronteira amazônica com a Bolívia melhorou com a legalização de cerca de 900 pessoas, mas requer uma maior cooperação dos países vizinhos para conter o fluxo, informaram nesta quarta-feira (17/04/2013) fontes oficiais.
“Há uma sensação geral de maior tranquilidade”, declarou Tião Viana, governador do Acre, após uma reunião com o chanceler Antonio Patriota para analisar as medidas adotadas nos últimos dias frente a uma chegada em massa de imigrantes, a grande maioria procedentes do Haiti.
Segundo dados oficiais, dos cerca de 1.600 imigrantes que chegaram nas últimas semanas a Epitaciolândia e Brasiléia, nos limites com a Bolívia, cerca de 900 legalizaram sua situação e já contam com vistos para permanecer no país.
Também receberam atendimento médico, foram vacinados contra doenças tropicais e serão auxiliados na busca por um emprego.
Apesar do governador Viana ter considerado que há uma maior tranquilidade, também disse aos jornalistas que comentou com Patriota sua preocupação com uma possível repetição do fenômeno, que o Governo Brasileiro atribui às redes de tráfico de pessoas.
Viana apoiou a intenção do Brasil de buscar apoio da Bolívia, Peru e Equador para combater essas redes e solicitou ao Governo federal um maior respaldo ao estado do Acre, que é “uma região vulnerável” pelas dificuldades que impõem as fronteiras amazônicas.
A imigração desde o Haiti por essas fronteiras começou depois do terremoto que devastou o país em 2010 e não parou desde então, embora com diversa intensidade.
Para tentar colocar um freio, o Governo limitou as concessões de vistos para 1.200 por ano, mas sempre que fossem tramitados no Haiti e não em território do Brasil.
No entanto, após ter outorgado vistos a 1.593 haitianos em 2011, esse número saltou até 1.900 em 2012 e já foi superado em somente três meses de 2013.
Além de haitianos, nas últimas semanas chegaram pessoas desde outros países e, segundo um balanço feito pelas autoridades do Acre na semana passada, havia 60 imigrantes senegaleses, oito dominicanos, cinco nigerianos e um bengali.
Imigrantes de outras nacionalidades não terão atendimento especial
Diferentemente de haitianos, o processo para conseguir documentação para entrar legalmente no Brasil será mais difícil para imigrantes de outras nacionalidades. Além de haitianos, encontram-se no alojamento senegaleses, dominicanos, nigerianos e um bengalês no alojamento dos refugiados em Brasiléia. Eles não participaram do mutirão de atendimento para regularização de documentos, feito desde sábado (13), no interior do Acre.
De acordo com o secretário Nacional de Justiça, Paulo Abraão, em entrevista dada na última semana, as demais nacionalidades deverão seguir os procedimentos legais, previstos na legislação brasileira e não terão o mesmo tratamento que os haitianos.
“Esse procedimento, se eventualmente houver uma situação de solicitação de protocolo de refúgio, é encaminhado para o Comitê Nacional para Refugiados para que haja deliberação de cada caso individualmente, se há ou não a configuração de alguma situação típica de refúgio e se negado, essas pessoas terão que se retirar do território”, afirmou Abraão.
O nigeriano Kevin Odogbie trabalhava em um aeroporto em seu país de origem. Em inglês, ele explica que fugiu de um conflito entre cristãos e mulçumanos que, segundo ele, se tornará uma guerra até 2015. “Até 2015 vai haver uma guerra, por isso vim embora logo. Eu preciso proteger minha família”, afirma ele.
Kevin lembra que nasceu, trabalhou e foi criado na Nigéria. Para ele é dificil deixar o país, mas é necessário. “Eu não preciso esperar a guerra acontecer, eu tenho que fazer algo”, afirma. O nigeriano pretende conseguir um emprego no Brasil, para buscar sua esposa e a filha de dois anos. “Eu preciso trazer eles antes da guerra, essa é minha missão”, diz.
Quanto a posição do governo brasileiro em relação às outras nacionalidades, ele acredita que não é necessário convencer as pessoas, porque a situação crítica em seu país é conhecida em todo o mundo.
“Eles vão investigar. Existe um problema político, um problema religioso, eles só precisam investigar. Se eu fosse o governante de um país eu ajudaria, porque é necessário. No Haiti não tem guerra, nos países africanos as pessoas estão morrendo todos os dias”, reivindica o nigeriano.
O visitante mais distante é o único bengalês do alojamento. Abdul Hoquem como todos os imigrantes, veio a procura de emprego e uma vida melhor. Ela saiu de Bangladesh, um país asiático rodeado quase inteiramente pela Índia. Em seu país de origem ele costurava roupas.
Segundo Abdul, o país é muito populoso. “No meu país tem uma grande população, mas é um local muito pequeno”, explica ele. Para chegar ao Brasil, ele foi para Dubai, localizada ao longo da costa sul do Golfo Pérsico na Península Arábica na Ásia. De lá pegou um avião para a América.
Segundo ele, saiu legalmente do país, mas no Equador roubaram seu passaporte. “Eu me tornei ilegal porque alguém roubou meu passaporte durante a viagem, em Equador. Minha família me mandou outro passaporte”, conta.
Ele já está há um mês e cinco dias no alojamento dos refugiados e afirma que já falou com a Policia Federal e conseguirá em breve seus documentos.
(Agências – 17/04/2013)
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