Pesquisa etnográfica e folclórica nos anos 1930
02/09/2013
Por Noêmia LopesAgência FAPESP – No início de 1935, os antropólogos Claude Lévi-Strauss (1908-2009) e Dina Dreyfus (1911-1989) foram dois dos jovens professores franceses que desembarcaram na capital paulista para integrar o corpo docente da então chamada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL/USP), fundada um ano antes.
Ambos passaram a transitar entre estudiosos que buscavam o estabelecimento de instituições voltadas à prática científica das ciências sociais, como o escritor e pesquisador Mário de Andrade (1893-1945).
O vínculo construído entre Lévi-Strauss, Dreyfus e Andrade em torno de interesses como arte, etnografia e folclore é tema de Um laboratório de antropologia, escrito pela cientista social Luísa Valentini a partir de sua dissertação de mestrado em Antropologia Social, que foi defendida na USP e contou com Bolsa da FAPESP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O encontro do trio se deu em especial entre os anos 1935 e 1938, quando Andrade dirigiu o Departamento de Cultura e Recreação na Prefeitura de São Paulo e criou a Sociedade de Etnografia e Folclore, da qual Dreyfus e Lévi-Strauss foram colaboradores de grande importância.
Com base em documentos variados – como cartas, apostilas, fichas, relatórios e catálogos –, Valentini analisa as investigações empreendidas pelo trio naquele período. São relatos acerca de cursos de etnografia ministrados por Dreyfus; de textos escritos por Lévi-Strauss para a Revista do Arquivo Municipal; de pesquisas de campo sobre folclore e cultura popular realizadas nos subúrbios da cidade; e de debates sobre antropologia, etnografia, arte e psicologia, temas sobre os quais os protagonistas não raro divergiam.
A parceria entre os dois jovens professores franceses e o intelectual brasileiro já foi tema de outras pesquisas em décadas anteriores – e ganhou atenção especial após a publicação, em 2004, de cartas enviadas por Lévi-Strauss a Andrade, pela revista Les Temps Modernes e pelo jornal Folha de S. Paulo.
Contudo, a abordagem escolhida por Valentini remete não apenas à colaboração muito próxima entre os três, como à análise dos dispositivos científicos por eles mobilizados.
Para tanto, o primeiro capítulo faz referência ao que a autora chama de laboratório imaginado: “Esse que seria o laboratório pensado na colaboração entre os três personagens aqui considerados se delineia como um grande mecanismo institucional, centrado na produção de um fichário antropológico que articularia pesquisa em campo e em arquivo, pesquisadores leigos e profissionais, coleções, registros e monografias, com vistas à sistematização dos conhecimentos sobre o povo brasileiro em mapas e obras de referência como dicionários, vocabulários e bibliografias”, descreve Valentini.
Em seguida, o segundo capítulo rastreia influências, contatos e mudanças culturais que preocupavam os três pesquisadores. E, por fim, o terceiro capítulo trata das realizações da Sociedade de Etnografia e Folclore, como a bem-sucedida produção de mapas folclóricos e a elaboração do fichário antropológico, que não chegou de fato a se concretizar.
A cidade de São Paulo da década de 1930, começando a ganhar contornos metropolitanos, arranha-céus, universidades e sotaques estrangeiros, serve como pano de fundo para as empreitadas de Lévi-Strauss, Dreyfus e Andrade.
Um laboratório de antropologia
Autora: Luísa Valentini
Lançamento: 2013
Preço: R$ 42
Páginas: 248
Mais informações: www.alamedaeditorial.com.br/um-laboratorio
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