O ESTRANGEIRO.COM
Pedidos de asilo ao Brasil aumentam quase 2.900% em seis anos, diz Conare.
O
Brasil abriga 9 mil refugiados reconhecidos, de 78 países, em especial
da Síria, República Democrática do Congo, Colômbia e Angola e esse
número não para de crescer, devido às crises humanitárias e conflitos
armados em diferentes partes do mundo: nos últimos seis anos houve
aumento de mais de 2.860% nos pedidos de asilo, segundo o Comitê
Nacional para os Refugiados (Conare).
O
Oficial de Proteção da Agência das Nações Unidas para Refugiados
(Acnur) no Brasil, Gabriel Godoy, disse em evento sobre o tema, no Rio
de Janeiro, que em 2010 o país tinha 500 pedidos de refúgio por ano e
hoje recebe 1.200 por mês. Em 2015, havia mais de 28 mil solicitações:
“A realidade global tem tido impacto no Brasil, que tem visto um
incremento vertiginoso dos pedidos de refúgio. O sistema de refúgio
brasileiro tem que ser repensado para que se tenha maior capacidade de
resposta a esse volume crescente de solicitações. Isso demanda mais
recursos financeiros e humanos”.
Godoy
participou de um seminário sobre a situação dos refugiados promovido
pela Acnur, em parceria com a Cáritas, no Museu do Amanhã, zona
portuária do Rio de Janeiro. Ele também defendeu a criação de um Plano
Nacional de Integração Local para garantir mais direitos aos refugiados:
“As diretrizes de acolhimento já estão na Constituição, mas precisam
ser, de fato, uma prática na ponta, nas cidades em que essas pessoas
passam a viver”.
O
congolês Charle Congo mora no Rio há oito anos e veio para cá fugindo
dos conflitos armados em seu país. Ele citou o idioma e o preconceito
como os principais obstáculos para sua adaptação no Brasil: “Muita gente
acha que refugiado é fugitivo, não gosta de refugiado. O protocolo que
ganhamos quando chegamos também não ajuda, é um pedaço de papel e deixa
alguns empregadores inseguros, acham que não vale nada”. Hoje, casado
com uma brasileira e com um filho brasileiro, ele se diz quase
brasileiro: “Depois, a gente se acostuma. Hoje, vivo as mesmas
dificuldades e vantagens dos brasileiros”.
Conterrânea
de Charle Congo, Naomi Kaka, 23 anos, está no Brasil há um ano e sete
meses. Ela veio sozinha, fugindo da violência. “No meu país estudava
contabilidade. A maior dificuldade para mim é que ainda não consegui
trabalho”, comenta ela, que até hoje não conseguiu contato com a família
que deixou no Congo.
Coordenadora
do Programa de Atendimento de Refugiados da Cáritas do Rio de Janeiro,
Aline Thuller explicou que não para de crescer o número de mulheres
congolesas chegando sozinhas ao Brasil, grávidas ou apenas com os
filhos.
“O
Congo, hoje, é conhecido como a capital mundial da violência sexual
contra a mulher; então se uma família congolesa tiver condições de tirar
alguém do país, escolhe a mulher e a criança, pois elas estão em uma
situação mais vulnerável nesse contexto A situação de violência é muito
grave no Congo. E esse número tende a aumentar, pois é um ano de
eleições, em um país cujo presidente é ditador, o que deve acirrar os
conflitos”, diz Aline.
Durante
o seminário, os palestrantes também defenderam a inclusão na lista de
refugiados daqueles perseguidos por sua orientação sexual. “Infelizmente
ainda existem 86 países no mundo que criminalizam a relação homossexual
e seis punem essa relação com pena de morte. “O Brasil tem reconhecido
esses pedidos e essa é uma boa prática, mas ainda é um desafio. A Acnur
defende que o conceito de refugiado seja interpretado de maneira mais
abrangente”, afirmou Gabriel Godoy.
Flávia Villela
(EBC - 16/06/2016)
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