terça-feira, 21 de março de 2017

DIA INTERNACIONAL CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL

Hoje se comemora, no mundo todo, o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, um dia de luta, de conscientização, contra o racismo, o preconceito de cor, ascendência, origem étnica ou nacional.
O 21 de Março é dia de luta desde 1960 em memória aos mortos no “Massacre de Shaperville”, vítimas do Apartheid, em Joanesburgo, África do Sul. Naquele dia milhares se manifestavam contra a lei do passe que obrigava os negros andarem com identificações que limitavam seu acesso a locais urbanos.

Discriminação racial é...

“Discriminação Racial significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor, ascendência, origem étnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de impedir ou dificultar o reconhecimento e exercício, em bases de igualdade, aos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou qualquer outra área da vida pública” (Artigo I da Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial).

Existe uma só raça, a raça humana

caminho raca humana
Existe somente uma espécie humana, e estes somos nós, brancos, pretos, vermelhos ou amarelos, indígenas, negros, europeus, asiáticos ou de que origem formos, todos humanos, e ponto. As ínfimas diferenças, de cor, de tipo de cabelo, de formato de olhos ou lábios, não correspondem a diferenças genéticas significativas, a ciência já o demonstrou.

O que é a luta contra a discriminação racial no Brasil

Nosso país só começou a se engajar nesta comemoração após a consagração da CF de 1988. E a luta está longe de ser concluída. O racismo existe aqui, é explícito no dia a dia, nas ações policiais, nas políticas públicas, apesar de todo os avanços.
Assim fica, a título de finalização, a fala de Juscelina Nascimento, da Fundação Cultural Palmares/MinC:
“Os negros ainda são estatísticas nos registros de mortes violentas. No Brasil, entre cada 10 casos de excessos policiais, 9 acontecem com negros. Também são os negros as únicas vítimas de equívocos policiais que resultam em constrangimento ou em morte; são eles os últimos a serem contratados e os primeiros a serem demitidos nas empresas; são os que percebem os menores salários - a despeito da igualdade de função exercida e da qualificação; são aqueles para quem sua cultura não pode ser convertida em benefício próprio; são as vítimas esquecidas de moléstias como glaucoma, falsemia, lúpus e albinismo; são aqueles a quem os professores desestimulam a ingressar na vida acadêmica, alegando a saturação do mercado; aqueles em quem se incutem a inviabilidade de cotas e outras políticas compensatórias - somos nós que vivemos a continuidade da discriminação racial vestida do manto sacrossanto da cordialidade, da gratidão eterna e da consciência dos nossos pares de reconhecerem a longínqua existência de um bisavô negro em sua árvore genealógica, que justificaria a ausência de discriminação racial no Brasil”.
Vamos pensar nisso e abraçar a raça humana com todas as suas cores e etnias, hoje e sempre.
GreenME
www.miguelimigrante.blogspot.com

quinta-feira, 9 de março de 2017

Notícias

Sociedade

Cultura

Em São Paulo, o refúgio na gastronomia

por Débora Melo e Tory Oliveira — publicado 09/03/2017 02h00, última modificação 09/03/2017 19h20
Palestinos, sírios e congoleses abrem bares e restaurantes com comidas típicas de seus países de origem
Estadão Conteúdo
Gastronomia de Refúgio.jpg
Filho de refugiados palestinos, Hasan Zarif (à direita) comanda o Al Janiah, na Bela Vista
Servido em um copo alto, o drinque gelado mistura suavemente vodca, limão e chá, evocando, diz o cardápio, o que se consome nas casas palestinas quando os convidados sentam para compartilhar histórias.
Batizado de “Retorno a Haifa”, a bebida é uma criação do barman palestino Ahmad Hajjer e uma das muitas alusões à causa palestina que circulam no Al Janiah, misto de bar, restaurante e espaço político-cultural na região central de São Paulo.
O estabelecimento começou com uma extensão das atividades de militância de Hasan Zarif, de 42 anos, e cristalizou-se em mais um ponto de contato entre as comunidades brasileira e de refugiados na capital.
Um total de 10.418 refugiados de 80 nacionalidades vivem hoje no Brasil, segundo dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare). Apesar da fama de destino acolhedor, o Brasil reduziu a concessão de refúgio em 2016: foram 886 pedidos aceitos, queda de 28% em relação a 2015.
Foi na Ocupação Leila Khaled, que reúne militantes sem-teto brasileiros e refugiados, também no centro da cidade, que Zarif conheceu os responsáveis pela cozinha do Al Janiah, de onde saem pratos de falafel, kafta, babaganoush, fatouche e tabule. Zarif explica que, além da questão da moradia, o emprego é um dos principais problemas dos refugiados que chegam ao Brasil.
“Eu tenho uma obrigação com esses caras, eles são como meus pais, meus irmãos, meus parentes”, conta Zarif, cuja história se confunde com a de tantos outros desterrados em decorrência da instalação do Estado de Israel, em 1948. Nascido no Brasil, Zarif conta que a família nunca perdeu a esperança de voltar para a terra natal. “Minha mãe viveu aqui 30 anos, sem aprender português."
Os cozinheiros do Al Janiah também oferecem seus pratos toda terça-feira na Fatiado Discos, misto de bar e loja no bairro do Sumaré, zona oeste da capital. “Foi a primeira coisa boa que me aconteceu no Brasil, meu primeiro trabalho”, conta Mohammad Othman, de 28 anos, dois deles no País.
O bar cede a esse grupo de refugiados palestinos nascidos na Síria o espaço onde semanalmente é promovido o Jantar dos Refugiados, com a venda de deliciosos sanduíches de falafel e shawarma.
Congolinária
Há quase sete anos vivendo no Brasil, o refugiado congolês Pitchou Luambo, de 35 anos, comanda hoje o Congolinária, que oferece pratos veganos, típicos da República Democrática do Congo.
Pitchou
O refugiado e ativista congolês Pitchou Luambo
Segundo Pitchou, a culinária cotidiana dessa região central da África privilegia o uso de vegetais. “O congolês não come nada de origem animal no dia a dia. Então eu não precisei fazer nenhuma adaptação para oferecer comida vegana”, conta Pitchou.
A única mudança, explica, foi feita no tempero. O fufu, por exemplo, um tipo de polenta africana feita com farinha de mandioca e fubá, ganhou alho e sal. “Foi a solução que encontramos para agradar ao paladar brasileiro.”
O público brasileiro é o principal alvo do Congolinária. “O congolês faz essa comida na casa dele. A ideia é compartilhar a nossa cultura com vocês. O omomba, por exemplo, é um doce que minha avó fazia para o meu pai”, diz Pitchou sobre a biomassa de banana da terra com pasta de amendoim.
No menu vegano, os pratos ganharam nomes de animais: tembo (elefante), mbuzi (cabra), simba (leão) e ngombe (vaca). Para acompanhar as iguarias, suco tangawisi, uma bebida típica africana de abacaxi e gengibre bem marcado, com “lendárias propriedades afrodisíacas”, como alerta o cardápio. Há, ainda, a versão alcoólica, que leva cachaça artesanal.
Congolinaria
Os pratos simba e tembo, acompanhados de suco tangawisi, no Congolinária (Fotos: Tadeu Amaral)
Advogado e ativista, Pitchou trabalhava em uma organização que dava apoio a vítimas de estupro em seu país, mas teve que fugir quando passou a ser perseguido.
Com áreas ricas em minérios, a República Democrática do Congo está há mais de 20 anos mergulhada em um conflito armado, e a atuação de rebeldes da etnia hutu, que consumou o genocídio de 1994 na vizinha Ruanda, é uma das responsáveis pela manutenção da violência no país.
Da família de Pitchou, apenas a filha de 14 anos está no Brasil. Sem conseguir revalidar seu diploma de advogado, o hoje empresário critica as dificuldades impostas pela burocracia brasileira. “Falta vontade política para promover a integração dos refugiados. O governo e as ONGs parecem querer que a gente continue dependente”, diz.
Talal
A burocracia também é apontada pelo sírio Talal Al-Tinawi, 42 anos, como um dos desafios de se viver no Brasil. Em 2016, ele abriu um restaurante de comidas típicas de seu país no bairro do Brooklin, na zona sul da capital, após levantar 60 mil reais em uma campanha de financiamento coletivo.
Talal
Talal, em restaurante que leva o seu nome
Antes da eclosão da guerra na Síria, em março de 2011, ele vivia confortavelmente com a esposa, Ghazal, e os dois filhos na capital Damasco. Formado em Engenharia Mecânica, possuía um escritório no ramo, três lojas de roupas e dois apartamentos. A culinária, conta, era apenas um hobby.
Durante a guerra civil, porém, foi preso pelas forças de segurança do governo de Bashar al-Assad, confundido com um opositor de mesmo nome. Ficou três meses e meio na prisão, onde foi aconselhado a deixar a Síria para não ser detido novamente. A família partiu para Beirute, no país vizinho Líbano, onde ficou dez meses. 
Nesse meio-tempo, Talal conta que visitou diversas embaixadas em busca de refúgio, sem sucesso.  Em setembro de 2013, o governo brasileiro passou a emitir um visto humanitário facilitando a entrada no País de pessoas afetadas pelo conflito na Síria.
Sem conseguir revalidar seu diploma, Talal trabalhou vendendo roupas e conseguiu um emprego em uma oficina no bairro de Santa Cecília, mas a situação continuava difícil. Certo dia, resolveu organizar um jantar em comemoração ao aniversário de um dos filhos e convidou voluntários do Instituto de Reintegração do Refugiado (Adus). “Uma voluntária falou que a comida era muito boa e que eu deveria trabalhar como cozinheiro”, lembra.
Prato-Talal
Arroz sírio e assado de berinjela com molho de tomate, cebola e pimentão, do Talal (Fotos: Reprodução/Facebook)
Estimulado pelos amigos, Talal criou uma página no Facebook, passou a fazer entregas e cozinhar para eventos. O sonho de organizar um restaurante, porém, por causa dos custos, parecia distante até que surgiu a ideia de organizar um financiamento, e assim surgiu o Talal Culinária Síria.
Como forma de se adaptar ao público brasileiro, passou a trabalhar também com a opção de buffet por quiloNo cardápio, além dos tradicionais quibes fritos e esfihas, figuram o arroz sírio, acompanhado de quibe com coalhada e carne assada ou em chuletas, ou da opção vegetariana de assado de berinjela com molho de tomate, cebola e pimentão. Para acompanhar, há a limonada síria, feita com suco de limão e água de rosas.
Serviço
Al Janiah - Rua Rui Barbosa, 269, Bela Vista
Jantar dos Refugiados, na Fatiado Discos - Rua Professor Alfonso Bovero, 382, Sumaré (toda terça-feira)
Congolinária - Até 11 de março, no Vitaminado - Rua Marinho Falcão, 55, metrô Vila Madalena (depois, estarão disponíveis para eventos)
Talal Culinária Síria - Rua das Margaridas, 59, Jardim das Acácias
*Reportagem publicada originalmente na edição 926 de CartaCapital, com o título "O refúgio na gastronomia"

sábado, 4 de março de 2017

LIVROS, VÍDEOS E FILMES



Livro revela a trajetória da migração contemporânea

“Histórias Migrantes – Caminhos Cruzados” mostra diferentes aspectos da migração de povos europeus para a América nos séculos 19 e 20
Por  - Editorias: Cultura

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Carta de imigrante espanhol, datada de 1920, do acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo - Foto: Reprodução
Carta de imigrante espanhol, datada de 1920, do acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo – Foto: Reprodução

As lutas, motivações e dificuldades das comunidades de imigrantes que contribuíram para a formação do Brasil atual – portugueses, italianos, judeus, alemães, espanhóis e italianos, entre outros – estão narradas no livro Histórias Migrantes – Caminhos Cruzados, organizado pelos professores Sedi Hirano e Maria Luiza Tucci Carneiro, ambos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Publicado pela Editora Humanitas, o livro traz 18 ensaios de especialistas em migração, que discutem temas como fontes documentais da imigração judaica no Brasil, os retratos de imigrantes no Arquivo Nacional, as rotas de fuga dos fugitivos do nazismo e a recepção dos imigrantes japoneses e espanhóis no Brasil.
“Os autores desta coletânea procuraram resgatar, através de seus projetos individuais e coletivos, os fatores e os atores que, de alguma forma, contribuíram para a composição da população e da cultura brasileira”, escreve a professora Maria Luiza, do Departamento de História da FFLCH, na apresentação do livro. Ela destaca que os autores, em seus artigos, buscam identificar como cada grupo de imigrantes reagiu nos seus países de origem às pressões demográficas, culturais, políticas e econômicas que o levaram a emigrar. “Em muitas situações, a guerra, a fome, o racismo e a superpopulação despontaram como fatores promotores da ‘vontade ou do ato de emigrar'”, escreve a professora. “Estes estudos, fundamentados em fontes primárias e secundárias, passam das sociedades expulsoras (comunidades de origem) para as receptoras, em busca dos laços sociais que continuam a unir os imigrantes, cujos caminhos se cruzam nas cidades grandes e pequenas, nas zonas rural e urbana.”
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Ficha consular de imigrante italiano, do acervo do Arquivo Nacional – Foto: Reprodução

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Esses “caminhos cruzados” de imigrantes no Brasil estão descritos, por exemplo, no acervo do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro (AHJB), tema de artigo assinado por Lucia Chermont, que abre o livro Histórias Migrantes. Fundado em 1976 por iniciativa de um grupo de alunos e professores da USP, o AHJB possui cerca de 11 mil livros em vários idiomas, além de 8 mil obras em iídiche. Conta também com 12 mil periódicos, entre jornais e revistas, e 40 mil imagens. “Essa documentação permite estudar as diversas formas de inserção dos imigrantes em São Paulo e outros centros urbanos do País e como se deu a organização de comunidades e outras formas de associação baseadas em etnicidade”, escreve Lucia. “São fontes que permitem a realização de pesquisas sobre etnicidade no País e temas como questões de gênero, associativismo e cooperativismo, produção cultural, atividades políticas, assistência social, grupos de jovens, lazer e esportes e uma série de temas que dizem respeito não apenas à história dos judeus no País, mas igualmente à história social e cultural do País de forma ampla.”

Livro de registro de imigrantes no Brasil e passaportes japoneses, acervo do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil - Foto: Reprodução
Livro de registro de imigrantes no Brasil e passaportes japoneses, acervo do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil – Foto: Reprodução

Em outro artigo, Lidia Reiko Yamashita discute a digitalização do acervo do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, projeto que permite a recuperação e a divulgação de dados sobre o movimento migratório que formou uma colônia no Brasil hoje estimada em 1,5 milhão de pessoas, entre imigrantes e seus descendentes – a maior colônia japonesa fora do Japão. “A principal barreira ao acesso às informações sobre a história da imigração japonesa no Brasil sempre esteve no fato de que a maior parte dos documentos e publicações sobre o assunto encontra-se exclusivamente em língua japonesa”, escreve Lidia, que é formada em Arquitetura e Urbanismo pela USP e ocupa o cargo de vice-presidente da Comissão de Administração daquele museu. Desde 2008, o museu mantém um projeto de digitalização de todo o seu acervo, com mais de 5 milhões de dados em português e japonês.
A professora Maria Luiza Tucci Carneiro assina o artigo sobre os refugiados do nazismo. Ela destaca que, entre 1933 e 1939 – quando ainda era possível sair da Alemanha -, cerca de 139 mil refugiados judeus entraram nas Américas. “Os Estados Unidos, apesar de impor cotas por nacionalidades para a liberação de vistos, estão entre os países que mais receberam refugiados (102.222), seguidos pela Argentina (63.500), Brasil (11.000), Canadá (6.000), Cuba (3.000) e República Dominicana (472).”

O livro lançado pela Editora Humanitas - Foto: Reprodução
O livro lançado pela Editora Humanitas – Foto: Reprodução

Maria Luiza relata histórias de famílias judaicas como a de Mathilde Maier, que fugiu da Alemanha com o marido em 1938. “Ajudados por amigos católicos, os Maier conseguiram embarcar num trem, mas, na divisa de Emmerich, ficaram detidos por cerca de oito horas”, destaca a professora. “Possivelmente, entre os soldados das fronteiras havia alemães que eram contrários a Hitler. Deixaram o casal passar e, como por um milagre, conseguiram atravessar a divisa da Alemanha para a Holanda.” Dali eles foram para a Inglaterra e, em seguida, embarcaram para o Brasil.
Outros artigos publicados em Histórias Migrantes são, por exemplo, “Tra Genova e Santos – I viaggi dei migranti nei giornali nautici (1892-1915)”, de Federico Croci e Carlo Stiaccini, “Emigración española a Cuba y Brasil – Notas comparativas sobre los modelos migratorios y suas repercusiones en España”, de Elda Evangelista González Martínez, e “Notas estudantis sobre Alfonso Bovero: um anatomista italiano em terras paulistas (1914-1937)”.
Histórias Migrantes – Caminhos Cruzados, de Sedi Hirano e Maria Luiza Tucci Carneiro (organizadores), Editora Humanitas, 378 páginas, R$ 47,00.