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(1h 57min)
Dirigido por Carlos Saura
Gênero Drama
Sinopse e detalhes
Mario Suarez (Miguel Ángel Sola), autor e diretor teatral, apesar da fama está em crise. Abandonado pela mulher, refugia-se nos ensaios de um espetáculo que prepara, sobre o tango. Angelo Larroca (Juan Luis Galiardo), o mafioso produtor e também bailarino frustrado, sugere a Mario que dê o papel principal sua protegida (Mía Maestro). Impressionado com o real talento e beleza da jovem, ele se torna seu amante.
Comentário
TANGO é
uma produção belíssima do diretor espanhol Carlos Saura. Tocante pela expressão
da dança e da música que colocam em movimento um representante da cultura
argentina, principalmente marca e revela um momento histórico da terrível
Dita-dura militar que avassalou o país. O extermínio daqueles que deram voz ao
movimento de se contrapor é encenado nos corpos que se deslizam e se atacam.
Conta
também a história do Tango, que diferentemente do que muitos pensam, o tango
expressava-se inicialmente na periferia da Argentina, na região portuária, e de
prostituição. Uma dança que se iniciou entre homens, impedidos de se olhar,
contudo sem perder sua sensualidade, a entrega, encenava esse confronto com o
ritmo e cadência migrados da batida dos tambores africanos.
São os
franceses que se encantam ao mirar o Tango, migram com ele para os Cafés
Franceses, e ao cruzar as fronteiras essa arte do corpo ganha expressão na
burguesia francesa. A dança originalmente de homens, marcada pela cultura negra,
contagia e capta o imaginário de homens e mulheres francesas, este passo
encontra um lugar para o casal, inscreve-se na diferença. Num movimento
pendular entre o feminino e o masculino, entre sexualidade e morte. Embalados
por uma sonoridade intensa.
Ao cruzar
as fronteiras, o Tango retorna a sua origem, marcado como não poderia deixar de
ser. Cruza também as fronteiras dos portos, da sexualidade velada, marginal das
prostitutas, do confronto possível apenas entre homens. Inscrevendo-se e sendo
compartilhado por homens e mulheres de toda sociedade argentina. E como
atributo fálico porta o simbólico dessa cultura, deslizando-se por entre passos
e metaforizando-se nos gestos.
Saura,
retrata ainda a chegada dos imigrantes italianos a Argentina, que rapidamente
descansam suas bagagens e seus corpos entregando-se à dança, e com ela trazem
também suas marcas... na linguagem, nas vestes, nos nomes. A fotografia
italiana colore e embriaga nossos olhos.
Este
filme reúne poesia, movimento e discurso. E toda a passionalidade que envolve
um triângulo amoroso. Mas principalmente toca as fronteiras existentes em todos
nós, de dentro e de fora, do estranho e do familiar, da política, da
cartografia, do tempo, da origem, do deslocamento e de toda a intolerância que
provoca o diferente.
Comentário
escrito por
Cláudia Sagula, Psicanalista do Projeto
Ponte
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