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SUGESTÃO DE LEITURA: "A CHEGADA"
UMA EXPERIENCIA SEM PALAVRAS
“A Chegada”, nova obra do autor
Australiano de origem chinesa, Shaun Tan, retrata com delicadeza e profundidade
a questão da imigração através de uma sequencia visual sem palavras. Mestre da
narrativa por imagens, o autor nos captura e conduz para um mundo que oscila
entre o real e o onírico, entre a solidão e a solidariedade, entre o estranho e
o familiar.
Baseado em casos reais narrados
por imigrantes de diferentes países, Tan representa graficamente a vivência
daqueles que um dia tiveram que se despedir da sua terra de origem rumo ao
desconhecido, experiência que muitas vezes pode se tornar angustiante em função
da ruptura dos referenciais afetivos e culturais.
Para quem vive ou já viveu tal
situação não há como não se reconhecer no olhar perdido e amedrontado do
personagem principal em suas tentativas de se fazer entender sem conseguir
falar.
A cidade habitada por seres fantásticos
e paisagens que remetem a um mundo arcaico revelam a riqueza e ao mesmo tempo a
tensão interna do personagem. A mudez provocada pela incompreensão dos novos
códigos culturais mostra a fragilidade do sentimento de si e de pertencimento
ao mundo.
Mas a passagem do tempo e o enfrentamento
do desconhecido dentro e fora de nós, torna
o estranho um pouco mais familiar, possibilitando alguns encontros e a
construção de novos laços. Nessa passagem me parece fundamental o resgate da
história de cada um, da memória daquilo que deixamos, daquilo que fomos e do
que ainda somos.
Uma pequena mala é tudo o que o
personagem carrega em sua jornada, mas cada objeto, cada foto cumpre um papel
importante ao relembrá-lo sua origem. É preciso construir a ponte entre o que
ficou e o que agora se apresenta, habitar novamente a si mesmo para então se
sentir pertencente ao novo lar. Seres em constante movimento, somos todos
imigrantes dentro de nós mesmos.
Comentado por Daniela Galvão
Psicanalista do Projeto Ponte
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