Mostra de cinema discute a condição dos refugiados na política contemporânea
Anualmente acontece em São Paulo a Mostra Mundo Árabe de Cinema, evento promovido pelo ICArabe (Instituto da Cultura Árabe), que apresenta diversos filmes de difícil acesso ao público brasileiro e alguns debates. Neste ano a questão do refugiado foi tema de uma mesa de discussão ocorrida no último dia 13 de setembro, no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo). Nomeado “O campo de condição: o lugar dos refugiados na política contemporânea” o debate contou com a presença do diretor da Mostra, Geraldo Campos, e com João Amorim, diretor da Cátedra Vieira de Mello na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Entre as reflexões instigadas no evento, destaca-se o fato de o Brasil não ter uma discussão sobre a política migratória. Os candidatos da próxima eleição não falam em suas propostas sobre os direitos políticos para estrangeiros, por exemplo. “Não ouvimos isso no Estado que recebe tantos refugiados”, diz João Amorim. Além disso, “o Estatuto do imigrante foi feito na Ditadura Militar. É herança da ditadura”, complementa Campos. Outra questão a ser pensada é que uma pessoa em estado de vulnerabilidade tem mais chances de ser mão-de-obra explorada. E no meio da população brasileira que é atingida por esse problema também está o refugiado.
Por fim, foi discutido o preconceito. Há quem tema pelo emprego, apesar de os imigrantes refugiados ocuparem muitas vagas que não são cobiçadas pela população local, e a discriminação em algumas escolas que recebem migrantes.
O debate aconteceu após a exibição dos filmes Os Shebabs de Yarmouk e Um Mundo que não é nosso. O primeiro mostra a história da terceira geração de palestinos nascidos no campo de refugiados de Mukhayyam Yarmouk, na Síria. Já o segundo, apresenta três gerações de palestinos exiladas no campo de Ain el-Hilweh, no sul do Líbano.
Apesar dos diferentes locais e histórias, ambos mostram desejos e sonhos semelhantes em refugiados de qualquer lugar. Eles querem fugir de um conflito, viver em paz, trabalhar, estudar, namorar. Muitos desses anseios são semelhantes aos que qualquer pessoa pode sentir mesmo que esteja na estabilidade do próprio país. Os diretores Axel Salvatori-Sinz e Mahdi Fleifel humanizam a situação, transmitindo a mensagem de que alguém em condição de refúgio é um ser humano como qualquer outro, com valores, virtudes e vícios.
Texto: Priscila Pacheco / Foto: Marina Girona
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