Ênfase nos recordes de migração na Europa ignora dramas humanos
No livro Existem Crocodilos no Mar é
contada a história verídica do menino afegão Enaiat, que teve de deixar
o país de origem devido a conflitos e perseguição étnica. Depois,
enfrentou uma dura jornada por cinco países até chegar à Itália, onde
conseguiu asilo. Sua trajetória é semelhante à de milhões de outras
pessoas que tiveram no ato de migrar a única escolha em busca de uma
vida mais digna ou mesmo para simplesmente sobreviver.
O mundo continua a produzir novos Enaiats, e não sabe o que fazer para garantir condições mínimas de sobrevivência a eles. Segundo a Frontex, agência de fronteiras da União Europeia (UE) 107.500 pessoas entraram pelas fronteiras do bloco em julho, elevando para 340 mil o total deste ano. E aproveitando o World Humanitarian Day, lembrado hoje (19), esse tema não deve passar batido ou ser subestimado.
Os números são recorde na comparação tanto com o mês anterior (70 mil em junho) como em relação ao mesmo período em 2014 (123.500). Ele é causado tanto pela continuidade e agravamento de conflitos que matam e expulsam pessoas de seus países de origem como pelo endurecimento da fiscalização nas fronteiras.
Síria, Afeganistão (país de Enaiat) e Iraque, que estão há anos em ebulição por conta de conflitos armados e instabilidade geral, são a origem da maior parte desse fluxo. E locais como Lampedusa (Itália), Calais (França), Melilla (Espanha) e Kos (Grécia) são símbolos desse drama – sem contar também a chamada Rota Balcânica, na qual migrantes tentam chegar à UE via Macedônia e Sérvia.
Uma das passagens mais marcantes – e dramáticas – da história de Enaiat é justamente a travessia que fez em um pequeno bote entre a Turquia e a Grécia. Ele teve sorte de sobreviver, mas muitos não conseguiram.
Mas a ênfase nos recordes, em vez de sensibilizar autoridades e a sociedade sobre o drama vivido por migrantes que tentam chegar à Europa, acaba por ignorar o drama humano que representa esse deslocamento em massa. Além dos que conseguem chegar vivos à Europa, há milhares de outros migrantes que morrem em algum momento da travessia, seja por terra, ar ou pelo mar – como alguns dos parceiros de jornada de Enaiat.
Mas enquanto organizações humanitárias clamam aos governos por uma infraestrutura de emergência para acolher os migrantes, as autoridades costumam estudar e implementar novas formas de restrição à migração – novos muros, leis mais duras, repatriação, entre outras.
Ao mesmo tempo, países mais distantes das fronteiras da União Europeia, como Inglaterra, Alemanha e Suécia, não dão o suporte necessário às nações que recebem inicialmente os migrantes, como Itália e Grécia. Essa reação, somada à continuidade dos conflitos geradores de deslocamentos humanos, só tende a elevar em tamanho e gravidade essa crise humanitária. Ela ainda ajuda a alimentar o tráfico humano e os discursos e sentimentos de xenofobia mundo afora, dificultando ainda mais a adoção e manutenção de políticas públicas de integração e assistência aos migrantes.
Aproveitando o fato de hoje, 19 de agosto, ser lembrado o World Humanitarian Day, é fundamental que autoridades e sociedade reflitam e tenham uma postura humana para quebrar esse círculo vicioso, que é um dos grandes desafios contemporâneos, seja na Europa ou em qualquer outro continente. No entanto, a comunidade internacional em geral pouco tem feito de fato em relação a ele.
Com informações da AFP, Deutsche Welle e Reuters
O mundo continua a produzir novos Enaiats, e não sabe o que fazer para garantir condições mínimas de sobrevivência a eles. Segundo a Frontex, agência de fronteiras da União Europeia (UE) 107.500 pessoas entraram pelas fronteiras do bloco em julho, elevando para 340 mil o total deste ano. E aproveitando o World Humanitarian Day, lembrado hoje (19), esse tema não deve passar batido ou ser subestimado.
Os números são recorde na comparação tanto com o mês anterior (70 mil em junho) como em relação ao mesmo período em 2014 (123.500). Ele é causado tanto pela continuidade e agravamento de conflitos que matam e expulsam pessoas de seus países de origem como pelo endurecimento da fiscalização nas fronteiras.
Síria, Afeganistão (país de Enaiat) e Iraque, que estão há anos em ebulição por conta de conflitos armados e instabilidade geral, são a origem da maior parte desse fluxo. E locais como Lampedusa (Itália), Calais (França), Melilla (Espanha) e Kos (Grécia) são símbolos desse drama – sem contar também a chamada Rota Balcânica, na qual migrantes tentam chegar à UE via Macedônia e Sérvia.
Uma das passagens mais marcantes – e dramáticas – da história de Enaiat é justamente a travessia que fez em um pequeno bote entre a Turquia e a Grécia. Ele teve sorte de sobreviver, mas muitos não conseguiram.
Mas a ênfase nos recordes, em vez de sensibilizar autoridades e a sociedade sobre o drama vivido por migrantes que tentam chegar à Europa, acaba por ignorar o drama humano que representa esse deslocamento em massa. Além dos que conseguem chegar vivos à Europa, há milhares de outros migrantes que morrem em algum momento da travessia, seja por terra, ar ou pelo mar – como alguns dos parceiros de jornada de Enaiat.
Mas enquanto organizações humanitárias clamam aos governos por uma infraestrutura de emergência para acolher os migrantes, as autoridades costumam estudar e implementar novas formas de restrição à migração – novos muros, leis mais duras, repatriação, entre outras.
Ao mesmo tempo, países mais distantes das fronteiras da União Europeia, como Inglaterra, Alemanha e Suécia, não dão o suporte necessário às nações que recebem inicialmente os migrantes, como Itália e Grécia. Essa reação, somada à continuidade dos conflitos geradores de deslocamentos humanos, só tende a elevar em tamanho e gravidade essa crise humanitária. Ela ainda ajuda a alimentar o tráfico humano e os discursos e sentimentos de xenofobia mundo afora, dificultando ainda mais a adoção e manutenção de políticas públicas de integração e assistência aos migrantes.
Aproveitando o fato de hoje, 19 de agosto, ser lembrado o World Humanitarian Day, é fundamental que autoridades e sociedade reflitam e tenham uma postura humana para quebrar esse círculo vicioso, que é um dos grandes desafios contemporâneos, seja na Europa ou em qualquer outro continente. No entanto, a comunidade internacional em geral pouco tem feito de fato em relação a ele.
Com informações da AFP, Deutsche Welle e Reuters
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