quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Texto



¿Quién realmente soy? ¿El emigrar modificó algo en mí?

Cuando decidimos ir a vivir a otro país se genera una verdadera sacudida interior: todo nos llama la atención: los olores y colores, la forma de ser e estar de la gente, la comida, los ritos y formas de convivencia etc. y especialmente las diferencias- tan notadas “por los de afuera”.
Sin darnos cuenta cotejamos y sacamos a relucir hábitos, creencias, dichos etc. muchas veces anteriormente no cuestionados por haber sido introyectados, absorbidos, inconscientemente a través de la lengua materna y costumbres del país de origen. Podemos aceptar vivir esta “revolución interna” de muchas maneras pero lo difícil es asumir el proceso de duelo a que nos confronta el estar en nuevas tierras, el haber dejado algo para atrás que ya no será totalmente accesible. ¿Cómo recuperarlo?

Freud escribió sobre el tema en un texto publicado en 1917, llamado Duelo y Melancolía, donde  hace alusión a la pérdida de la patria, incluyéndola en el proceso de duelo. Cuando escribió ese texto no sabía que él propio tendría que exiliarse a causa de las persecuciones a los judíos ya en los años anteriores a la ll Guerra Mundial, lo que obligó a toda su familia a abandonar Viena y radicarse en Londres en 1938 donde viviría apenas un año hasta su muerte en 1939.
Lo que llama la atención es que no todos tenemos conciencia de que, a pesar de la posible elección de emigrar, vivimos un duelo que presupone un trabajo psíquico de separación, pérdida y desarraigo y una adaptación a la nueva vida que implica creación, cambio y reorganización.
Desde el punto de vista del psicoanálisis la patria o el sentimiento de nación, encarna varias referencias, sea  por medio del idioma, la cultura, la etnia, las relaciones familiares y grupales, la religión, el contexto histórico vivido y compartido etc.

El inmigrante puede sentirse extraño al volver a su país de origen y poseer el mismo sentimiento en el sitio en que reside… O sea, está en juego el sentimiento de pertenecer o no a algún lugar  -que trasciende lo geográfico- y que se denominó, en el caso del extranjero, como un sin-lugar. “No soy de aquí ni soy de allá...canta Facundo Cabral”. ¿Seremos errantes para siempre?

 Lo difícil es aceptar que este lugar “movedizo”, esta extrañeza es una condición con la cual tendremos que convivir por el simple hecho de ser humanos.

Pero ¿en qué el grupo étnico nos asemeja y en qué nos diferencia?

Yo creo que nos identificamos con una forma de ser y pensar la vida que está entre lo familiar y lo cultural, entendido aquí, en su sentido amplio.
Otro aspecto interesante es que estos procesos migratorios vienen acompañados de idealizaciones positivas o negativas, ya sea una nostalgia de la tierra perdida “donde se vivieron los mejores momentos” ó una sensación de inadaptabilidad, de crítica feroz al país extranjero que no “tiene nada bueno o que me guste”  ó, al revés, una idealización de que se está totalmente integrado al nuevo país y que “no se extraña nada”.
El desafío es soportar hablar y discutir ese conflicto -que nos lleva al dilema de tener que convivir con alguien dividido por los recuerdos, por las relaciones que mantenemos y abandonamos en los dos países, por los idiomas-, cuando ese alguien es uno mismo, lo que significa, por lo tanto, discutirlo desde nosotros. O sea, existió una elección, más o menos libre, de un sujeto que o no tenía otra alternativa (económica, social, política etc.), o fue obligado (por ejemplo, el exiliado, refugiado político o religioso) o escogió realmente emigrar pero que trae aparejada una cierta ambivalencia.

Sí ó no, Irse ó quedarse, disyuntivas...

¿Qué dejé para atrás? ¿Soy diferente? ¿Cuáles marcas al final me constituyen como nación y como sujeto y no abandono nunca?

Liliana Emparan
Psicoanalista y Coordinadora del Projeto Ponte- grupo de apoyo psicológico a inmigrantes y migrantes

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Notícias

16/nov/2015, 13h14min

Mulheres Invisíveis: Histórias não contadas de imigração

Lourdes, Basília e Marta. As três dividem a casa e as histórias de saudades | Foto: Fernanda Canofre/Sul21
Lourdes, Basilia e Marta. As três dividem a casa e as histórias de saudades | Foto: Fernanda Canofre/Sul21
Fernanda Canofre
Lourdes e Basilia decidiram que sairiam juntas da República Dominicana no final de 2013. As duas primas, de idades próximas, viram que se quisessem para os filhos uma vida diferente daquela que tinham na periferia de Santo Domingo teriam de partir. Em pouco tempo, juntaram as economias e mais um pouco de dinheiro emprestado com familiares, contataram um coiote – fácil quando se tem plata em mãos -, fecharam as malas e se prepararam para a viagem ao sul da América. As duas nem imaginavam que estavam entrando em um jogo de tabuleiro: a cada parada planejada na rota dos atravessadores teriam de pagar mais se quisessem avançar de casa. O preço de movimento girava sempre em torno de U$S 1 mil.
Foi assim que alguns dias depois de saírem de Santo Domingo, tendo gasto todas as economias da viagem, elas se viram paradas na porta de uma pensão em Quito tentando entender seu destino final. O Equador não oferecia muitas oportunidades. Das outras mulheres estrangeiras que estavam ali esperando, vindas também da América Central, ouviam que as únicas opções eram ir embora ou trabalhar na prostituição. Muitas de suas conterrâneas, sem ter a quem recorrer, optaram por sobreviver. Dez dias depois de chegarem ao Equador, Basília e Lourdes apelaram mais uma vez à família. Telefonaram a Santo Domingo e pediram outra remessa de dinheiro que permitisse que elas chegassem ao lugar onde ouviram dizer que teriam emprego certo: o Brasil. Estavam juntas, mas ainda assim eram duas mulheres sozinhas. Como diz Lourdes, “dá medo ser mulher e andar sozinha, sem saber onde você vai parar”.
O número de mulheres migrantes cresce a cada ano e em muitos países já ultrapassa o de homens. Ainda assim, quando se fala em migrações, elas seguem invisíveis. Nas narrativas da mídia sobre crises de refugiados ou novos movimentos migratórios, mulheres raramente aparecem nas fotos, quanto mais como personagens de reportagens. Nas discussões sobre os fluxos migratórios, elas têm presença quase irrisória diante dos homens. Mas ainda que ignorada, a perspectiva de gênero está em questão “desde o momento da partida, a escolha de quem vai migrar, os motivos da migração, a permanência ou o retorno”, como analisa a pesquisadora da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Gláucia Assis.

“No Brasil, por exemplo, na década de 1980, nós tínhamos 250 mil brasileiros no exterior e só 18-19% eram mulheres. Hoje, em termos mundiais, o fluxo imigratório de mulheres já representa 48,5%, segundo o último dado da ONU. Na América Latina é superior, 58,2%”, aponta Jurandir Zamberlan do CIBAI Migrações, de Porto Alegre. Entre os chamados “novos rostos migratórios” – imigrantes que chegam ao Brasil vindos do Caribe, da África e do sudoeste da Ásia – o número de mulheres também tem aumentado nos últimos anos. Dominicanas, como Lourdes e Basilia, são a nacionalidade mais comum na migração feminina. “Das outras, nós recebemos 95% de homens. Agora, com a relativa estabilidade dos homens aqui eles têm começado o processo de reunião familiar, trazendo as companheiras, filhos”, diz Zamberlan.

Mais do que isso, a imigração de mulheres é diversa envolvendo vários contextos, as mais diferentes histórias. “O que define uma mulher imigrante? É que elas são muitas. Elas não vem só acompanhar migração, elas são trabalhadoras. São várias mulheres, várias histórias, vários contextos”, analisa Gláucia. “E na maioria das vezes não é apenas uma questão econômica, mas questões de situações políticas e religiosas que fazem com que migrem. É importante notar que as mulheres têm agência no processo [migratório]”.

Imigração sob suspeita

Arame, o filho de 3 anos, o irmão e dois conterrâneos senegaleses com quem divide as despesas | Foto: Fernanda Canofre/Sul21
Arame, o filho de 3 anos, o irmão e dois conterrâneos senegaleses com quem divide as despesas | Foto: Fernanda Canofre/Sul21
Ainda era 2013 quando Basilia e Lourdes entraram no Brasil de ônibus em Puerto Maldonado, na fronteira do Peru, de forma legal, com seus passaportes em mãos, mas ainda por trabalho do coiote. Tiveram de esperar alguns dias para encaminhar a solicitação de visto. Do tempo no Acre, elas lembram apenas da dificuldade para comer, do chão onde dormiram e da poeira que estava por toda parte. Outra dominicana que viajava com elas, sem dinheiro, contou que para passar a fronteira teria que “viver com o coiote”. Essa foi a imposição. Pelo tempo que ele definisse, ela serviria como a mulher para ele ter relações sexuais a hora que bem entendesse. “Depois ela chegou: tive que fazê-lo, porque senão ele me deixava no deserto lá”, lembra Basília.

Relatos de abuso sexual e violações de direitos estão entre os principais riscos sofridos por mulheres migrantes. Em setembro deste ano, a organização britânica Women For Women Refugee (Mulheres pelas Mulheres Refugiadas) lançou uma carta chamando a atenção para o problema. Uma reportagem do New York Times, publicada em outubro, conta que embora apenas 2% dos adolescentes que migram sozinhos para os Estados Unidos sejam meninas, “são elas que têm os mais cruéis contos de abuso”. Na série sobre migração “Os Invisíveis”, dirigida por Gael García Bernal para a Anistia Internacional, o episódio que aborda a saga de mulheres hondurenhas para entrar nos EUA afirma que 6 a cada 10 imigrantes são abusadas sexualmente no caminho. Outro vídeo, produzido pela International Womens Rights Action Watch (IWRAW), defende que “uma vez que uma mulher decide embarcar em uma jornada de imigração, ela está mais suscetível a encontrar violações de seus direitos do que homens”. Seja qual for sua idade.

A senegalesa Arame ouviu de um conhecido da família que no Brasil poderia ter oportunidades melhores de futuro. Mas poderia ter escutado em alguma rua no Senegal. Segundo ela, homens vendendo o “sonho brasileiro” se tornaram artigo comum nos mercados públicos do país. Como o amigo da família já possuía visto permanente de residência no Brasil, ele sugeriu que poderia fazer uma carta convite para que Arame viesse. Pensando que isso a livraria dos custos e riscos de um coiote, a jovem aceitou a proposta. Conversou com a mãe e juntas somaram as economias para que ela pudesse ir atrás de uma chance do outro lado do Atlântico. Quando desembarcou no aeroporto do Rio de Janeiro, depois de um voo tumultuado, Arame descobriu que teria de entregar os quase U$S 8 mil – reservados para mantê-la nos primeiros meses – pela carta que lhe abriu as portas do Brasil. O conhecido sumiu em São Paulo assim que pegou o dinheiro. Ela estava sozinha sem conhecer nada, nem falar uma palavra em português. O único custo de uma carta convite são R$ 2,78 cobrados para autenticação, em qualquer cartório brasileiro.
Hoje, quatro anos depois, Arame vive em Passo Fundo, cidade no norte do Rio Grande do Sul, e tenta acolher em sua casa conterrâneos recém-chegados. Depois de dois anos de relacionamento com um homem senegalês, ela foi deixada para trás com um filho nos braços. Arame conta que se preocupa especialmente com as mulheres. Uma delas, depois de um mês no Brasil conseguiu chegar ao sul e à sua casa. Ela também passou por experiências de abuso e prostituição, mas não fala sobre o assunto. A única coisa que diz é que só não volta para casa para não enfrentar todo o caminho outra vez.

“É como se a imigração feminina estivesse sob suspeita. Você fica presa a dois estereótipos: ou ela é vítima ou ela é cúmplice das situações de tráfico”

Ainda que aconteçam, essas situações são apenas parte da realidade. O problema é que são suficientes para colocar “a migração feminina sob suspeita”, segundo a pesquisadora e antropóloga Gláucia Assis. “Para as mulheres a preocupação [antigamente] era se elas estavam casadas; para os homens era se eles tinham trabalho. Hoje em dia a situação se modificou. Você tem muito mais mulheres migrando sozinhas, mulheres mais qualificadas, mas ainda tem muito preconceito quanto à migração das mulheres e muita suspeita em relação a ela. Suspeita no sentido de ‘estão indo se inserir no mercado do sexo, estão indo trabalhar com prostituição’. É como se a imigração feminina estivesse sob suspeita. Você fica presa a dois estereótipos: ou ela é vítima ou ela é cúmplice das situações de tráfico”, explica Assis.  

A pesquisadora lembra ainda que, desde 1960, houve um aumento significativo no número de migrantes em geral, ligado às transformações do capitalismo e a uma série de serviços que antes não existiam. É neste momento também que se abre a demanda por mão-de-obra feminina nos chamados serviços de cuidado, como trabalho doméstico, cuidados de idosos, baby sitters, trabalho em setor de serviços. “Vai se criando nichos de mercado de trabalho para esses grupos de imigrantes. Elas cuidam nos Estados Unidos das casas e dos filhos dos outros, enquanto pagam alguém nos seus países para cuidar dos filhos delas. É um rede internacional de cuidados, mas que também é de precarização do trabalho. Na maior parte destes países, as mulheres têm mais dificuldade de legalização, não tem direitos trabalhistas”, nota.

Destino final

Lourdes no dia em que encaminhou sua solicitação de refúgio no Brasil | Foto: Arquivo pessoal
Lourdes no dia em que encaminhou sua solicitação de refúgio no Brasil | Foto: Arquivo pessoal
Basilia e Lourdes enfrentaram oito dias dentro de um ônibus do Acre até São Paulo. Na capital paulista, buscaram emprego, ficaram um tempo em uma fábrica. As duas ainda dependiam do dinheiro enviado pela família de Santo Domingo. Conheceram então um haitiano que lhes falou sobre uma vaga de trabalho na colheita de maçãs em Santa Catarina. Sem pensar duas vezes, compraram passagem e partiram outra vez. Porém, o local – perto de Florianópolis – era muito diferente do que ele havia descrito. “Havia muitos haitianos, o alojamento era ruim, não tinha telefone, nem internet. Era como se tivessem jogado a gente num deserto e ia ficar lá”, lembra Basilia. À noite, no mesmo dia em que chegaram, acompanhadas de outros sete conterrâneos que chegaram com elas, saíram a pé da fazenda.

Logo, elas ficaram sabendo que precisavam de trabalhadores para a colheita de uva no interior de Lages e seguiram para lá. O local outra vez tinha problemas de alojamento e pagava muito pouco. Elas logo perceberam que depois dali não teriam muitas perspectivas de juntar algo além do que precisavam para sobreviver e saíram a caminhar outra vez. Sem dinheiro, tendo de economizar ao máximo para fazer o dinheiro vindo de casa render, a vida era “ir de abrigo em abrigo”. Nos dias em que não conseguiam vagas em albergues municipais de Lages, elas acabavam dormindo nas ruas mesmo, cuidando das malas e dos poucos pertences que carregavam. A rodoviária era um dos locais mais seguros para isso.

Por ali, elas ouviram falar que em Porto Alegre havia uma rede de assistência aos imigrantes e resolveram pedir uma última vez dinheiro dominicano. “Chegamos aqui e também foi pior. A sorte que encontramos esses lugares para as pessoas que não tem onde dormir. Mas às 5h da manhã nos acordavam e tínhamos de ir para a rua, ali esperamos até às 8h para ir à igreja onde estavam as malas”, lembra Lourdes. Com auxílio da igreja católica, elas logo arrumaram emprego em lanchonetes e restaurantes, como auxiliares de cozinha. Era quase época de Copa do Mundo na capital.

“À noite sempre ficávamos em casa, porque não tínhamos nada para fazer, nem para jantar. Só se comêssemos por lá [no serviço]”

Nos primeiros dias tentaram dividir, entre 4 mulheres, um quarto de pensão que custava 900 reais por noite. Depois arrumaram o porão de duas peças onde vivem até hoje, no bairro Vila Nova. Como o pagamento no emprego tinha de esperar até um dia 10, não tinham dinheiro nem para a comida. Os vizinhos começaram a ver a situação e passaram a doar coisas a elas. “À noite sempre ficávamos em casa, porque não tínhamos nada para fazer, nem para jantar. Só se comêssemos por lá [no serviço]”, conta Lourdes.

Embora muitas mulheres que estejam chegando agora ao Brasil, tenham vindo encontrar os maridos que já conseguiram visto e alguma estabilidade, entre as dominicanas, são elas quem abrem os caminhos. “Todas estamos sozinhas. Os maridos ficam com as crianças”, conta Marta, mãe de três filhos, que vive com Basília e Lourdes. É comum que irmãs, filhas, sobrinhas, cunhadas, queiram encontrá-las na “nova vida” em busca de uma oportunidade. Foi o que aconteceu com a irmã de Basília em março passado. “Eu não queria ela passando pelo o que eu passei, por todo o trabalho que deu até chegar aqui. Mas ela decidiu e quis vir, está aqui agora”, diz Basilia. A irmã também deixou dois filhos gêmeos pequenos e, assim como ela, também se divide em dois empregos para juntar dinheiro e enviar para casa.

Futuro incerto

A alta do dólar tem afetado diretamente os imigrantes por aqui. “É muito pouco. Logo que chegamos era bom, mas agora está difícil. Há muitas pessoas desempregadas. Quando chegamos se podia escolher o emprego que quisesse, mas agora não tem”, diz Basília.

Cátia e o filho Tiago, que nasceu no Brasil. | Foto: Fernanda Canofre/Sul21
Cátia e o filho Tiago, que nasceu no Brasil. | Foto: Fernanda Canofre/Sul21
Todas elas têm plano de trazer os filhos para perto de si. Marta quer que a filha que estuda Medicina possa se especializar no Brasil. Basilia, que saiu do país quando a filha tinha um ano e meio e não sabia falar, quer poder conversar com ela ao vivo em breve. Mas na situação atual trazê-los seria “continuar na mesma”. Lourdes pensa em ir para a Argentina, onde já tem cunhadas trabalhando na região de Buenos Aires. “Se eu estivesse lá, talvez não teria passado por tanta coisa. Elas me dizem que lá está melhor, que eu teria tempo para descansar. Aqui não tenho tempo nem para sair, para nada, só trabalhar e dormir o pouco que resta”, diz ela. “E na hora de enviar o dinheiro, não é nada. Quando eu vou enviar, volto com depressão”, completa Marta.

Assim que se tornou maior de idade, Cátia Rouseau, de 19 anos, partiu de Porto Príncipe para encontrar o namorado que já vivia e trabalhava em Caxias do Sul. Agora, família – ela, o marido e o filho Tiago, de um ano – vive apenas com o salário do marido e teve de parar de enviar remessas aos parentes no Haiti por causa do preço do dólar. Mas, se está difícil aqui, por outro lado, lá também quase não há perspectivas. “Só rico tem trabalho”, conta. Segundo Cátia, o nepotismo e a corrupção tomaram conta das ofertas de emprego. “Se melhorar, vou ficar aqui. Quero dar vida melhor para meu filho”. O plano da jovem é conseguir o que não conseguiu em seu país: achar uma maneira de concluir os estudos e poder fazer uma faculdade.

A maior parte da imigração de mulheres sempre funciona como um “projeto familiar e afetivo”, segunda Gláucia Assis. Ela começou a pesquisar a questão de gênero no âmbito das imigrações através de casos de brasileiras da região de Governador Valadares, em Minas Gerais, que migravam para a Europa e Estados Unidos para enviar dinheiro às famílias no Brasil. Uma situação bem semelhante a das imigrantes “novos rostos” que estão agora por aqui. A diferença é que além de achar um país com moeda mais forte que a de sua terra, elas buscam também condições culturais que ajudem a romper barreiras que tinham antes.

Nova cultura, velhos modelos

Em outubro deste ano, o Alto Comissariado para Refugiados da ONU publicou o relatório “Women on the run” (Mulheres em fuga). Segundo o documento, enquanto o mundo acompanha a discussão sobre refugiados na Europa, outra crise está se desenrolando na América Central e quase ninguém vê. Milhares de mulheres de El Salvador, Guatemala, Honduras e partes do México estão se deslocando rumo ao norte fugindo da violência. O relatório traz depoimentos de 160 mulheres sobre “estupro, assédio, extorsão e ameaças de grupos armados” e chama atenção para a crescente violência de gênero na América Central.

No grupo de discussões que se reúne uma vez ao mês no Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), em Caxias do Sul, as assistentes que trabalham com mulheres migrantes sempre tentam reforçar questões como a Lei Maria da Penha e as redes de assistência disponíveis a elas. “Quando a gente fala dos instrumentos de proteção para a mulher, elas não conhecem. A gente não sabe como é lá, mas talvez os mecanismos de proteção não sejam tão desenvolvidos em forma de lei, de uma patrulha, instituídos. Por ter isso no Brasil, não inibe os casos de violência, mas ajuda”, avalia Juliana Camelo, uma das trabalhadoras sociais do centro. “É muito delicado, principalmente porque toca na questão financeira. Muitas vezes a mulher depende financeiramente do companheiro.(…) Elas são extremamente fortes, batalhadoras, elas vêm e têm toda a questão da família. É uma carga emocional muito pesada”.
Reuniões mensais em Caxias tentam auxiliar mulheres migrantes. | Foto: Fernanda Canofre/Sul21
Reuniões mensais em Caxias tentam auxiliar mulheres migrantes. | Foto: Fernanda Canofre/Sul21
“As opressões que nós sofremos elas também sofrem. Por serem mulheres e um pouco mais por serem imigrantes”, diz Vanessa, outra atendente do local. Segundo ela, embora existam relatos conhecidos de violência doméstica entre imigrantes, os casos de assédio nem são relatados porque, como no Brasil, “muitas vezes já é ‘naturalizado’ para as mulheres”.

Desde que passou para a nova coordenação, em abril, a Casa Viva Rachel já recebeu três casos de mulheres haitianas vítimas de violência doméstica. O local só pode abrigar mulheres quando estas apresentam boletim de ocorrência policial comprovando a agressão. Apenas uma delas seguiu com o processo contra o agressor. Das outras duas, uma voltou ao Haiti por medo do ex-companheiro; a terceira descobriu que estava grávida depois de uma violação e resolveu perdoar o pai do bebê e de seus cinco filhos que ficaram no Haiti, descumprindo as medidas protetivas que tinha contra ele.

A procura de mulheres migrantes por atendimento na rede pública tem crescido este ano. “Há também situações em que elas não chegam a ser abrigadas, mas buscam informações. Na própria Coordenadoria da Mulher, muitas delas buscam informações, inclusive para busca de trabalho”, afirma Mara Parlow, responsável pela Casa Viva Rachel. Mesmo assim, ela conta que como casos da Lei Maria da Penha envolvem polícia, a maioria das mulheres desiste de seguir com processos contra agressores. “Tu fala a palavra ‘polícia’ já gera um temor. Quando elas veem que pode até gerar a perda do direito de permanência no país, ficam temorosas. Elas têm um temor muito grande diante da penalização dos agressores”.

“O grande desafio é fazer com essas mulheres que aqui estão busquem o atendimento quando necessitam”

A barreira cultural, especialmente religiosa, também tem se mostrado uma dificuldade para aproximar mulheres migrantes de serviços de assistência. No Fórum de Mobilidade Humana, realizado em 15 de outubro em Porto Alegre, a representante do Comirat (Comitê de Atenção a Migrantes, Refugiados, Apátridas e Vítimas do Tráfico de Pessoas) de Porto Alegre, Beatriz Morem da Costa, revelou que a capital ainda não possui números oficiais sobre imigrantes. Números que enfoquem a questão de gênero, então, são ainda mais difíceis de se estimar. Segundo Costa, mulheres são “raridade” nas redes públicas de atendimento. “O grande desafio é fazer com essas mulheres que aqui estão busquem o atendimento quando necessitam. Nossa ideia é fazer um programa junto à Secretaria Municipal de Saúde que possa abordar temas como controle de natalidade, HIV, atenção durante a gestação, se aproximar da população que chega”, revela.

Para Gláucia Assis, é só através da aproximação entre a população migrante e políticas públicas que algo pode começar a mudar. “Através de campanha de informação geral sobre os direitos dos imigrantes, alerta sobre tráfico de pessoas, etc. São medidas de vários níveis, incluindo mudança no Estatuto do Estrangeiro, que o projeto atual altera de maneira significativa, mas mantém pontos polêmicos. Essas leis poderiam promover políticas de equidade de gênero”.

Enquanto isso, pese todo risco e adversidade, elas, as mulheres que se lançaram à migração, resistem. “Somos mulheres fortes. Não é todo mundo que vem a um lugar que não conhece nada, sem saber o que vai acontecer, quem vai encontrar. Passar fome, dormir na rua, aguentar todas as coisas que fazem”, sorri Lourdes, sentada no sofá de casa com as companheiras.
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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Entrevista

Saskia Sassen: “Los nuevos flujos migratorios emanan de una pérdida masiva del hábitat”

La socióloga, Premio Príncipe de Asturias de las Ciencias Sociales en 2013, sostiene que en la actualidad existe un nuevo conjunto de migraciones con epicentro en el Mediterráneo, el Mar de Andamán y América Central.
“Lo más importante desde mi punto de vista, es que las causas no son tanto la búsqueda de una vida mejor, sino conflictos asesinos”
“La creciente inestabilidad y la pobreza extrema en muchas partes del África subsahariana, y la proliferación de mini-conflictos en el Medio Oriente y África del Este, han empujado el fenómeno a una nueva dimensión”
sociologa-Saskia-Sassen_entrevista
Entrevista a la socióloga Saskia Sassen, experta en globalización, migración y el estudio de la sociología del espacio urbano. Actualmente ocupa la cátedra Robert S. Lynd de Sociología de la Universidad de Columbia y es miembro del Committee of Global Thought de dicha institución. Es, además, profesora visitante de la London School of Economics and Political Science. Sassen fue galardonada con el Premio Príncipe de Asturias de las Ciencias Sociales en 2013 por sus contribuciones a la comprensión del fenómeno de la globalización y la sociología urbana.

Al analizar la actual “crisis de refugiados” en Europa, ¿nos encontramos ante otro de esos ciclos que describe en Inmigrantes y Ciudadanos (Editorial Siglo XXI de España, 2013), de la migración abierta a la migración forzada, de las sociedades receptivas a la criminalización del inmigrante?
Seguimos utilizando términos como inmigrantes, emigrantes y refugiados. Este lenguaje refleja una buena parte de lo que está sucediendo. Pero mi lectura de la actual situación me dice que estamos siendo testigos de la eclosión de un nuevo fenómeno que describe un relato mucho más complejo. Yo prefiero el término “pérdida masiva de hábitat” para describir lo que ahora ocurre.
La guerra destaca como el factor más visible, pero las apropiaciones de tierras, la desertificación o el incremento en los niveles de agua que están enterrando todo tipo de zonas habitadas están contribuyendo a impulsar a las personas en busca no tanto de una vida mejor, sino de la propia supervivencia. En Expulsiones (Katz Editores, 2015) hago una descripción detallada de las cada vez mayores masas de tierra y de agua que están prácticamente muertas y que están menguando nuestro hábitat global.
Por otro lado, el actual incremento de refugiados es un fenómeno distinto, tanto en términos de tamaño y origen. Los refugiados huyen de la guerra y de la devastación: la guerra en Siria, los conflictos en Afganistán, Somalia, Libia y otras zonas de África Oriental y del Norte, y la brutal dictadura en Eritrea. El norte de Nigeria y otras zonas de conflicto en África Occidental también están produciendo refugiados, aunque en menor escala. Así que estos nuevos flujos se diferencian de las migraciones tradicionales que aún se siguen produciendo ya que a menudo no queda nada a donde volver.
Estamos entonces ante un fenómeno migratorio nuevo y de un tipo de inmigrante muy distinto
El inmigrante ha sido durante mucho tiempo una figura familiar en nuestra historia occidental: nos referimos a cualquier persona en busca de una vida mejor. También ha sido durante mucho tiempo el ejemplo más familiar de las personas en movimiento. Los refugiados y los desplazados generalmente son vistos como algo muy distinto, víctimas de fuerzas superiores, almas derrotadas a merced, o a falta de ella, de gobiernos, y a menudo secuestrados durante muchos años en campamentos. Y luego está el fenómeno de exilio en la Historia Europea: en su mayoría personalidades prominentes que incluso alguna vez fueron poderosos, bien recibidos y acomodados en las grandes capitales europeas. Ellos llegaron para luchar por poder volver a sus países de origen.
La realidad en el terreno es a menudo más confusa que estos tipos de migrantes claramente definidos. Pero hay un elemento que destaca en la diversidad de las personas en movimiento: la imagen generalizada en tiempos de paz de nuestra historia occidental ha sido y es la del inmigrante deseoso de trabajar, de emprender su propio negocio, de enviar dinero a “casa”, a menudo imaginándose poder volver a su país, a su “hogar” de origen, para visitarlo o incluso quedarse para siempre.
Hoy en día existe un nuevo conjunto de migraciones: sus epicentros son el Mediterráneo, el Mar de Andamán y América Central. No es Rusia, Alemania o Italia quienes están enviando migrantes
Y lo más importante desde mi punto de vista, es que las causas no son tanto la búsqueda de una vida mejor, sino conflictos asesinos, guerras, el acopio masivo de tierras para plantaciones, la destrucción de sus hábitats a través de la contaminación de la tierra y el agua, las sequías, desertificación, el resurgimiento de la minería para obtener los metales que necesitamos para nuestra revolución electrónica. Familias y comunidades enteras están siendo expulsadas de su territorio de origen. Cada vez quedan menos “hogares” a los que volver.
Estos flujos de personas desesperadas son una indicación de procesos emergentes más propensos a aumentar que a disminuir. Estos flujos bien pueden ser los inicios de nuevas historias y geografías hechas por hombres, mujeres y niños en la huida desesperada de condiciones insostenibles. Para ellos no hay hogar al que volver, su hogar se ha convertido en una plantación, en una zona de guerra, una ciudad privada, en un desierto o en una llanura inundada.
Así que una forma de encapsular las causas de este nuevo y emergente fenómeno migratorio es el término al que me refería al principio: la pérdida masiva del hábitat.
Estos movimientos migratorios nuevos y extremos se unen a los movimientos migratorios tradicionales. ¿Convergen en la travesía?
Durante décadas ha habido barcos y traficantes que traen a personas en busca de trabajo desde el Mediterráneo a través de España e Italia. Ellos vinieron y siguen llegando en su mayoría de la región del Magreb y del África subsahariana occidental. Son en su mayoría migrantes habituales que dejan atrás familias a quienes envían remesas, a menudo deseando volver a casa. Así que esos flujos tradicionales y más pequeños continúan hoy, en su mayoría a través de Marruecos y las Islas Canarias. Es un grupo que tiende a ajustarse a la definición estándar de las migraciones.
Sin embargo, una diferencia importante del actual flujo con respecto al que se ha experimentado durante décadas es que el centro de gravedad se ha ido desplazado hacia el Mediterráneo Oriental. Grecia se ha convertido en el eslabón estratégico para estas migraciones. Recordemos que ya a principios de 2015 Grecia superó a Italia como el principal receptor, recibiendo 68.000 refugiados, en su mayoría sirios, pero también, entre otros, a afganos e iraquíes. Hasta 2015, el aumento en las llegadas por el mar Mediterráneo se hizo sentir sobre todo en Italia. En 2014, Italia recibió más de tres cuartas partes de todos los refugiados y los migrantes (170.000) por vía marítima. Por el contrario, Grecia recibió 43.500. En este nuevo giro de acontecimientos, las rutas del Mediterráneo central y oriental se han vuelto comparables en tamaño. Pero las personas en cada caso provienen de diferentes países. Según ACNUR, los que llegan a Italia desde Eritrea son un 25%; de Nigeria, el 10%; de Somalia, un 10%; seguido de Siria con un 7% y Gambia con un 6%. Los que llegan a Grecia vienen de Siria en un 57%; de Afganistán, un 22% e Irak en un 5%. Todos estos son mayoritariamente refugiados.
Persisten comportamientos racistas en el tratamiento de estos flujos, incluso sutiles. La insistencia de diferenciar a los “refugiados” de los migrantes “económicos”, por ejemplo
El asunto racial siempre ha sido un problema en los flujos migratorios y los factores que menciona siempre están presentes. Son cuestiones que se mezclan, pero que finalmente terminan dando lugar a dicotomías muy concretas. Básicamente dando lugar a percepciones positivas y negativas.
Mientras tanto, Europa busca soluciones improvisadas que a día de hoy rayan el soborno.
Creo que es necesario retroceder sobre el camino andado en lo que ha sido en realidad período muy corto –no más un año– y la medida en la que Europa se ha visto completamente incapaz. En cada paso se han visto desbordados por los hechos sobre el terreno, teniendo que cambiar continuamente sus posiciones y condiciones… Y ahora, lo último, ofrecer dos o tres mil millones a Turquía.
La creciente inestabilidad y la pobreza extrema en muchas partes del África subsahariana, y la proliferación de mini-conflictos en el Medio Oriente y África del Este, han empujado el fenómeno a una nueva dimensión. Y mientras que ahora estamos hablando de millones de refugiados, sólo hace unos meses Frontex advirtió que 153.000 migrantes “habían sido detectados en las fronteras exteriores de Europa“. Ahora nos resulta una cifra pequeña, pero en aquel momento esa cifra representaba un aumento del 149% respecto al mismo periodo en 2014, cuando el total fue de 61.500, que a su vez representaba un fuerte incremento con respecto a los años anteriores.
Entonces Europa se negó a hacer frente a lo que a toda vista era un ascenso constante que se había iniciado a finales de 2014… Justo el momento en el que Europa decidió suspender la operación Mare Nostrum propiciando un gran número de ahogamientos.
Entrevista en trumanfactor.com. Traducida por eldiario.es

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Eventos e Exposições

Refúgio, Retorno, E/Imigrações: Línguas, Identidades, Saúde Mental, Crenças, Território

por Sandra Sedini - publicado 28/10/2015 15:15 - última modificação 06/11/2015 17:00

Detalhes do evento

Quando

de 27/11/2015 - 09:00
a 27/11/2015 - 18:00

Onde

Antiga Sala do Conselho Universitário, Rua da Praça do Relógio, 109, térreo, Butantã, São Paulo

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O III Simpósio do Grupo de Pesquisa Diálogos Interculturais do IEA, de caráter interdisciplinar e interinstitucional, que por meio de enfoques teóricos específicos e metodologias próprias às suas áreas investigas,  o contato entre culturas. O objetivo do simpósio é trazer a público suas pesquisas, intervenções e estudos realizados acerca do contato entre pessoas decorrentes dos deslocamentos de grupos culturais. Tema complexo que tem representado enormes desafios para as pessoas em deslocamento, as sociedades que as recebem e a ordem mundial.
O simpósio está organizado em três mesas redondas e conferência de abertura do atual professor visitante do IEA e membro do Grupo de Pesquisa Diálogos Interculturais,  Jeffrey Lesser.
A possibilidade da participação virtual de grupos de pesquisadores, associações de migrantes nacionais e internacionais, profissionais, estudantes serão parte do evento.  Através do olhar histórico, sociológico, antropológico, psicológico e do ensino das línguas, o grupo busca dar continuidade a  tentativa de através desse embraçamento interdisciplinar problematizar e contribuir para ampliação da compreensão de fenômeno tão atual e candente aos rumos mundiais.

Inscrições

Evento gratuito, aberto ao público e com inscrição.
Capacidade da sala: 120 lugares

Programação

9:00 - Abertura
9:30-10:30 - Conferência de Abertura
A Invenção da Brasilidade: Identidade Nacional, Etnicidade e Políticas de Imigração
Jeffrey Lesser (USP/Universidade de Emory)
Intervalo
11:00 -12:30 - Mesa Redonda: Territórios e Crenças
Estrangeiros em São Paulo: Territórios e Fronteiras da Alteridade
Umbanda e Xamanismo Okinawano: Um novo Encontro Intercultural.
Koichi Mori (USP)
Intervalo
14:00-15:30 - Mesa Redonda: Migração e Saúde Mental
Refúgio e Saúde Mental
Lucienne Martins Borges (UFSC/Universidade Laval)
Retorno, Remigração e Saúde Mental
Sylvia Dantas (UNIFESP)
Intervalo
16:00 - 17:30 - Mesa Redonda: Refúgio no Brasil
Experiências de Acolhimento Linguístico
Rosana de Sá Amado (USP)
Encerramento
Evento com transmissão em: http://www.iea.usp.br/aovivo
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terça-feira, 3 de novembro de 2015

Cursos gratuitos

MAPAS DA SOLIDARIEDADE

Na USP, refugiados aprendem geografia do Brasil e encontram apoio para adaptação ao país.
Curso oferecido no Departamento de Geografia ajuda refugiados a compreender o novo contexto em que vivem e promove a bolsistas e voluntários a prática da docência.
Filho de palestinos, Jamal Zaiter viveu a maior parte de sua vida na Síria, onde se formou em química pela Universidade de Damasco. Em consequência da guerra, precisou sair do país, chegando a passar curtos períodos nos Emirados Árabes Unidos e no Líbano, até chegar, no final de 2014, ao Brasil. “Um amigo me ligou, disse que o Brasil concedia vistos para sírios e eu vim. Agora posso trabalhar e estudar, algo que eu não podia fazer nos outros países onde me refugiei”, relata em português ainda um pouco hesitante. Jamal é um dos alunos que, todos os sábados, vêm até o Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP para estudar geografia do Brasil.
Os sírios representam hoje o maior grupo dentro do total de estrangeiros reconhecidos como refugiados pelo governo brasileiro, somando mais de 2 mil pessoas. O perfil dos alunos, no entanto, é bem variado: iniciado em agosto deste ano, o curso teve 63 interessados de 17 nacionalidades diferentes. Além de sírios, frequentam as aulas pessoas da Nigéria, Congo, Camarões, Venezuela, Haiti, Egito, Bolívia e até mesmo do Nepal. O curso é voltado a refugiados, mas acolheu também não refugiados senegaleses. A faixa etária também varia bastante. “Recentemente recebemos uma senhora síria que havia chegado ao Brasil há apenas dois dias. Há também crianças pequenas e de colo e, para atendê-las, os voluntários sempre trazem lápis de cor e brinquedos”. É o que conta o professor Luis Antonio Bittar Venturi, idealizador e coordenador do projeto vinculado à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP, que conta com a parceria da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo.
A ideia surgiu durante as aulas de português para refugiados que Venturi ministra como voluntário há cerca de um ano. Lá, percebeu que os alunos tinham poucas noções sobre São Paulo e o Brasil, além do papel do país na América Latina e no mundo, mas se interessavam pelo assunto. “Fiquei muito surpreso com este interesse, porque aprender a geografia do país não é prioridade para quem está passando por dificuldades, para uma pessoa que precisa aprender português e conseguir um emprego, um lugar para morar”. O professor então propôs o projeto à PRCEU, conseguiu três bolsas e passou todo o mês de julho organizando e divulgando o curso na própria Cáritas e em mesquitas da cidade, distribuindo folders em português, francês, inglês e árabe. Para isso, contou também com o apoio de vários voluntários. “Apareceram pessoas da odontologia, da veterinária, das ciências sociais, de relações internacionais e mesmo de fora da USP; atualmente tenho mais voluntários do que bolsistas”, comemora.
Integração
As aulas acontecem todos os sábados pela manhã. Para os bolsistas e voluntários, é uma oportunidade de praticar a docência, ao mesmo tempo em que entram em contato com realidades muito diversas e conhecem um pouco mais da geografia mundial. “O principal desafio, de longe, é se colocar no lugar dos alunos no momento de preparação das aulas. ‘O que é relevante aprender sobre o Brasil na condição de refugiado?’ é uma questão que o grupo enfrenta constantemente”, afirma Luciana Niro de Souza Passos, aluna do primeiro ano do curso de Geografia e uma das bolsistas do projeto.
Outro desafio mencionado por Luciana é a questão da língua. Na sala de aula, fala-se, principalmente, inglês e francês, mas também se ouve árabe e espanhol. Alguns dos alunos que frequentam as aulas acabaram de chegar ao país e nunca tiveram contato com a língua portuguesa. O nigeriano Churchill Anagbogu, de 48 anos, chegou ao Brasil em maio do ano passado e já compreende um pouco o português, embora ainda ache difícil se expressar no idioma. O curso, conta, além de ajudar a conhecer melhor a geografia e a história do país, tem sido uma oportunidade para praticar a língua e melhorar sua fluência – Churchill já trabalhou como relações públicas e jornalista na Inglaterra e gostaria de trabalhar na área também no Brasil. “E o mais importante, o curso está me ajudando a me relacionar melhor com as pessoas daqui”.
Após a aula, que termina ao meio dia, professores e alunos almoçam juntos no Restaurante Central da USP, cujo valor é custeado pelo Departamento de Geografia da FFLCH. Sempre que possível, a organização do projeto busca também promover programas culturais com os alunos, que já foram à Pinacoteca, ao Instituto Butantan, à praça Benedito Calixto e à Virada Científica da USP. No final do curso, dia 14 de novembro, farão também uma viagem pela pela Baixada Santista, quando poderão conhecer a Serra do Mar e a reserva da biosfera de Mata Atlântica, o complexo petroquímico de Cubatão, o porto de Santos e a orla.
Além da geografia
As dúvidas que surgem após as aulas extrapolam a geografia do Brasil e a língua portuguesa. “Eles nos perguntam muito sobre como funciona o processo de ingresso na universidade no caso deles, também sobre revalidação de diploma, cursos de línguas, tradução de currículos e até mesmo se conhecemos lugares que estão empregando”, exemplifica Luciana Passos. A questão do diploma é uma das principais demandas, pois entre os alunos refugiados há médicos, químicos, farmacêuticos, professores, tradutores, entre outros profissionais com boa formação e que desejam fazer uso dela. A demora no processo e as taxas cobradas para a revalidação do diploma, no entanto, acabam representando um grande obstáculo. “Estamos tentando obter a isenção das taxas junto à Secretaria Geral da USP”, afirma Venturi.
Segundo o professor, alguns dos alunos deixam de frequentar as aulas à medida em que vão conseguindo trabalho, pois passam a ter os sábados ocupados, mas novos alunos estão sempre chegando. “E queremos mais. Se não couber na sala, mudamos para o anfiteatro”, afirma. O coordenador do projeto explica que ao final do semestre será feita uma avaliação geral do curso, repensando o programa das aulas, os horários e organização, além do planejamento da divulgação para o próximo semestre.
Até o momento o curso tem tido uma procura alta e uma repercussão bastante positiva, despertando o interesse de entidades que trabalham com refugiados e voluntários que querem ajudar não apenas com as aulas, mas com os procedimentos necessários para sua nova vida no país. “A realidade no Brasil é um contraponto ao que está acontecendo agora em alguns países europeus, onde os refugiados estão sendo mal-tratados. Aqui, a Cáritas oferece assistência jurídica, psicológica, profissional, auxiliando-os na obtenção de documentos e no acesso aos programas sociais e escolas. O Brasil ainda não tem, talvez, a infraestrutura necessária, especialmente no que se refere a hospedarias e abrigos, mas oferece todo o resto. Só temos a ganhar com isso, cultural, social e economicamente”, pontua.
Informações
Os interessados em participar do curso, seja como alunos ou voluntários, podem escrever para o email geografia.brasil.usp@gmail.com ou falar com o professor Luis Venturi pelos telefones (11) 3091-0433 / 3769 ou pelo e-mail luisgeo@usp.br.
Os alunos que passarem a frequentar o curso agora receberão o material das aulas anteriores. O grupo também divulga notícias e informações relacionadas ao curso e ao tema dos refugiados na página http://www.facebook.com/GeografiaparaRefugiados.
Aline Naoe
(USP – 22/10/2015)

domingo, 1 de novembro de 2015

Cursos gratuitos de Português para imigrantes


Eventos e Exposições

Últimos dias para inscrições gratuitas ao II Encontro Internacional Cultura, Comunicação, Marketing e Comunidade da USP

Oportunidade para troca de experiências sobre as boas práticas de gestão da Comunicação e marketing em projetos associados às tecnologias, socioculturais comunitários ou empresas, em diversos contextos e países
Professores Mitsuru Yanaze e Felipe Chibás, organizadores do evento
Professores Mitsuru Yanaze e Felipe Chibás, organizadores do evento
No dia 6 de novembro, sexta-feira, na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) especialistas internacionais e brasileiros se apresentarão no II Encontro Internacional Cultura, Comunicação, Marketing e Comunidade. As inscrições podem ser efetuadas até o dia 5 de novembro pelo site www.criarcom1.com.br. Mas, a organização do evento alerta que as vagas gratuitas são limitadas.
“Palco de debates, palestras e principalmente troca de experiências práticas com a apresentação de cases de sucesso na gestão de projetos, uns com ênfase em cultura e outros mais voltados para tecnologia. Este será o cenário que os participantes vão encontrar no evento”, explica o prof. dr. Felipe Chibás Ortiz, da Universidade de São Paulo (USP), um dos organizadores do Encontro.
E complementa: “Mundialmente há discussões sobre como as novas tecnologias da comunicação estão modificando a cultura das pessoas, empresas, religiões, escolas e universidades. Isto é, criando novos hábitos, rotinas e comportamentos e por consequência modificando a cultura, vamos mostrar tudo isso na prática”.
Durante o evento será lançado o livro “Marketing e Comunicação em projetos socioculturais: experiências brasileiras e cubanas”, organizado pelos professores doutores Mitsuru Yanaze, Felipe Chibás Ortiz e Kleber Markus. A obra reúne pesquisas e experiências sobre como desenvolver projetos inovadores na era digital.
Organizado pelo Centro de Estudos de Avaliação e Mensuração em Comunicação e Marketing (CEACOM) da ECA/USP, o II Encontro Internacional contará com os seguintes palestrantes: o especialista em microcrédito Dennis Paul, que trabalha como vice-presidente do banco JP Morgan Brasil, falará de sua experiência na gestão de 200 executivos atuantes em projetos sociais e de startups em Nova Iorque; enquanto, a diretora de Comunicação da Votorantim, Malu Weber, apresentará os desafios e internacionalização da empresa.
Também já confirmaram presença: Sofia Aleixo, do Instituto Superior de Economia e Gestão – ISEG, Lisboa/Portugal e que trabalha como Project Manager na área de novos projetos, abordará os difíceis e quase inexplorados ângulos da sensibilidade digital na gestão de projetos inovadores; a expert Jaira de Arriba Pascual, da Universidade de Murcia (Espanha), analisará a criatividade na nova cultura política, fazendo uma análise do case do partido de novo “Podemos” da Espanha; Gerardo Borroto Carmona, prof. dr. titular do Centro de Educação Superior José Antonio Echevarría, expert em criatividade e inovação, de Cuba, abordará a utilização comunitária da Internet com finalidades de projetos socioculturais.
E ainda: Veronica Goyzueta, pesquisadora das barreiras culturais à comunicação, do Peru.
Pelo Brasil, destaca-se a presença dos professores Margarida Kunsch, diretora da ECA/USP e Victor Aquino, chefe do departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da mesma entidade, ambos farão a abertura do evento.
Ceacom
Centro de Estudos de Avaliação e Mensuração em Comunicação e Marketing/CEACOM 
Com sede na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP, é uma unidade de pesquisa que integra a academia, organizações públicas e privadas promovendo trocas de informações que estimulem os processos de melhoria, evolução e otimização dos recursos investidos em todas as ações de marketing e comunicação.
Mais informações:
https://www.facebook.com/comunicacaoculturamarketingcomunidade
www.criarcom1.com.br