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Notícias UOL,
23/06/12:
Asfixiados pela crise na Espanha, imigrantes retornam só
com lembranças
Mariel Cristaldo
Em Madri
Uma caixa cheia de
fotos e lembranças é tudo que a equatoriana Rita
Smith levará da Espanha
quando retornar ao seu país, deixando para
trás, como outros muitos
imigrantes, uma hipoteca e sonhos
despedaçados pela crise.
"Quatorze
quilos é tudo que me sobrou de 12 anos vivendo na Espanha.
Todo o dinheiro
foi investido na casa, e ficou para a financeira",
conta aos prantos à
Agência Efe, a latino-americana de 48 anos e que
já começou a empacotar suas
coisas para uma viagem que significa
"romper as estruturas" de sua
vida.
"Toda a minha vida reduzida a uma caixa com fotos. É só o que
me
interessa levar, de resto não me interessa nada", acrescenta.
Rita
se somará aos cerca de 15 mil equatorianos que retornaram a seu
país de
origem nos últimos meses, segundo números do governo do país
andino.
A
viagem ainda não tem data marcada, já que Rita e sua família
esperam
finalizar as negociações com o banco para saldar uma hipoteca
que
pagaram regularmente durante oito anos por um apartamento em
Leganés,
bairro popular nos arredores de Madri, que compraram e agora os
obriga
a repensar sua vida.
Há dois anos a família Smith enfrenta
dificuldades econômicas. O
marido de Rita, um eletricista de 52 anos, perdeu
seu trabalho e
recebe um seguro-desemprego, enquanto ela teve empregos
temporários.
"Nossa renda está irregular e a alternativa que escolhemos é
voltar.
Afinal (o Equador) é onde está nossa terra, nossas raízes,
nossa
família", explica.
Rita trabalha temporariamente em uma empresa
de jardinagem e, quando
deixar de receber o salário, a parcela da hipoteca
será maior que sua
renda.
"Minha opinião é que temos que fechar a
conta no banco: que fiquem com
tudo se quiserem, mas não voltem a nos
incomodar. Se deixarmos a
dívida aberta, não posso prever como afetará meus
filhos ao longo do
tempo, pois já sabemos como enganaram todos nós",
critica.
A história de Rita é semelhante à de milhares de
imigrantes
latino-americanos que chegaram à Espanha há mais de uma década com
a
intenção de ficar, mas agora enfrentam os efeitos da crise econômica
e
devem buscar novas oportunidades em seus países ou em outros
destinos
europeus.
A Coordenadora Nacional de Equatorianos na Espanha
(CNEE) estima que
pelo menos 8.500 famílias dessa nacionalidade enfrentaram
problemas
com hipotecas entre 2007 e 2010 somente em Madri e que este
problema
levou muitos a deixarem a Espanha.
A presidente da
organização, Aida Quinatoa, explicou à Efe que o
Equador não é o único
destino de seus compatriotas, outros países
europeus como Itália, Alemanha,
Suíça, Inglaterra e França também os
recebem. Alguns equatorianos continuam
mantendo família na Espanha.
"Cinco mil equatorianos saíram da Espanha
para outros países da Europa
e o restante está aqui sobrevivendo até regular
os problemas
hipotecários", explica Aida.
"O que eles dizem é que aqui
já não há vida, não há esperança, e
decidem se aventurar. Quem não tem
recursos para ir para outro país
tem como última alternativa voltar ao
Equador".
Rita, que nasceu em Sangolquí, conta que foi muito difícil
tomar a
decisão de voltar porque seus filhos - um jovem de 24 anos e uma de
14
- foram criados na Espanha e a viagem significa um corte brusco
para
eles.
"(Voltar) me dá mais vergonha que tudo. Vergonha pelos 12
anos
passados aqui, tempo que poderia ter aproveitado melhor em meu
país",
lamenta Rita.
Segundo números oficiais, cerca de 400 mil
equatorianos vivem na
Espanha, tornando-se uma das maiores comunidades
estrangeiras de fora
da União Europeia.
A família Smith ainda não tem
planos para sua vida no Equador e sua
única expectativa é encontrar
tranquilidade e um pouco de apoio de
seus familiares.
[notícia
enviada por Rogério Haesbaert]
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