Campanha polêmica quer status de refugiado para imigrante judeu em Israel
Chancelaria do país pretende equiparar direitos de judeus oriundos de países árabes aos de refugiados palestinos.
21 de setembro de 2012 | 11h 18
Bernat Armangue/AP
Judeus rezam em Israel; país quer indenização para judeus imigrantes de países árabes
De acordo com o vice-ministro
das Relações Exteriores, Danny Ayalon, cerca de 850 mil judeus
provenientes de países árabes que imigraram para Israel nos primeiros
anos após a fundação do Estado são "refugiados" e merecem receber
indenização pelas propriedades que deixaram em seus países de origem. O
ministro também afirmou que "não pode haver uma solução para o conflito
entre Israel e os países árabes se os direitos dos refugiados judeus não
forem reconhecidos".
Segundo Ayalon, os "dois problemas, dos refugiados palestinos e dos
refugiados judeus, devem ser resolvidos no âmbito da comunidade
internacional". A polêmica, porém, é que a campanha tenta equiparar,
perante a opinião pública (doméstica e internacional), a situação dos
refugiados palestinos à dos judeus vindos de países árabes, os quais
imigraram para Israel logo após a fundação do Estado e receberam a
cidadania israelense ao chegar. Para críticos, trata-se de uma
estratégia com o objetivo de neutralizar as reivindicações palestinas.
A ideia não é nova. Desde os anos 1950 vários governos israelenses já
discutiram maneiras de vincular a questão das propriedades deixadas
pelos judeus nos países árabes e as propriedades de 750 mil refugiados
palestinos que foram confiscadas pelo Estado de Israel. Propostas de uma
possível "dedução" entre os valores calculados das propriedades já
foram levantadas, porém nenhum foro internacional aceitou as sugestões.
Iraque
Muitos judeus de origem oriental em Israel também rejeitam a ideia e discordam da linha adotada pelo governo. "Os palestinos não têm culpa do fato que deixamos propriedades no Iraque e não devem pagar por elas", disse o advogado Kochavi Shemesh, de 68 anos, à BBC Brasil.
Muitos judeus de origem oriental em Israel também rejeitam a ideia e discordam da linha adotada pelo governo. "Os palestinos não têm culpa do fato que deixamos propriedades no Iraque e não devem pagar por elas", disse o advogado Kochavi Shemesh, de 68 anos, à BBC Brasil.
Shemesh nasceu no Iraque e imigrou para Israel, juntamente com toda a
sua família, quando tinha seis anos de idade. "Minha família era
sionista, meus pais acreditavam que o lugar dos judeus era em Israel,
portanto não somos refugiados", afirmou. "Refugiados são pessoas que
perdem sua pátria, mas nós acreditávamos que Israel é a nossa pátria."
Shemesh também afirma que se os judeus iraquianos quiserem negociar
indenização por suas propriedades, "devem negociar com o governo
iraquiano". Nos anos 50, a maior parte da comunidade dos judeus do
Iraque - cerca de 130 mil pessoas - imigrou para Israel. Os principais
motivos foram uma bomba
que explodiu na sinagoga de Bagdá em 1951 e um acordo entre o então
primeiro-ministro de Israel, David Ben Gurion, e o premiê do Iraque,
Nuri Al Said. Segundo o acordo, os judeus poderiam sair do Iraque, mas
perderiam suas propriedades.
Documento
A campanha atual do Ministério das Relações Exteriores de Israel se baseia em um documento elaborado pelo Conselho de Segurança Nacional, subordinado diretamente ao primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. De acordo com o documento, "a exposição do problema dos refugiados judeus poderá servir para reduzir o efeito das exigências palestinas ou pelo menos limitar os parâmetros da discussão sobre a questão dos refugiados palestinos".
A campanha atual do Ministério das Relações Exteriores de Israel se baseia em um documento elaborado pelo Conselho de Segurança Nacional, subordinado diretamente ao primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. De acordo com o documento, "a exposição do problema dos refugiados judeus poderá servir para reduzir o efeito das exigências palestinas ou pelo menos limitar os parâmetros da discussão sobre a questão dos refugiados palestinos".
Para Kochavi Shemesh, "é injusto que os palestinos paguem o preço da
nossa história; eles não têm culpa do acordo que Ben Gurion fez com Nuri
Al Said".
"A direita israelense, que quer destruir qualquer chance de acordo
com os palestinos, decidiu utilizar a história dos judeus dos países
árabes como mais um meio de propaganda contra os palestinos", afirmou.
Ao mesmo tempo, em artigo no jornal Haaretz, a professora de Direito
Yfat Biton afirma que "a campanha do governo representa uma maneira nova
e original que o Estado (de Israel) encontrou para explorar os (judeus)
orientais". A hegemonia da cultura ocidental em Israel, desde sua
fundação, levou os judeus dos países árabes a uma situação de
inferioridade socioeconômica.
"Até hoje os judeus orientais são a maioria dos desempregados e a
maioria dos trabalhadores nas indústrias", diz Shemesh. BBC Brasil -
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